Tatanka critica os escassos apoios aos profissionais do setor e diz esperar que o país tenha aprendido com os erros. Black Mamba atuam esta sexta-feira em Braga
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O ansiado regresso dos Black Mamba ao Norte do país já podia ter acontecido no mês passado, com um concerto no Coliseu Porto Ageas inserido no festival "Montepio às vezes o amor". "Covi oblige", o espetáculo foi cancelado na véspera, mas esta sexta-feira à noite os fãs nortenhos da banda têm uma nova oportunidade para a verem ao vivo, no bracarense Altice Forum.
Neste primeiro concerto do ano numa sala de grandes dimensões, os autores de "Dirty little brother" vão revelar alguns dos temas que integram o próximo disco, "Last night in Amsterdam", com saída anunciada para outubro, mas não só. Uma parte significativa do alinhamento vai ser dedicada a mostrar temas menos conhecidos dos três primeiros discos, conferindo-lhes novas roupagens.
Apesar da singularidade do repertório, pouco habitual até para os espectadores mais assíduos, Tatanka acredita que o mais importante é mesmo o regresso aos palcos, pois "alimentamo-nos, da simbiose e da interação que mantemos com quem nos vê e ouve ao vivo".
A "vontade de recuperar o tempo perdido" que o público e os artistas manifestam é óbvia. Mas, para o vocalista, o que se passou no último par de anos não pode ser esquecido. "A pandemia revelou uma enorme fragilidade do setor cultural. Veio pôr a nu a falta de organização dos sindicatos e não só", defende.
Gratos à Eurovisão
Otimista por natureza, Tatanka mostra-se esperançado com a recente entrada em vigor do estatuto do profissional da cultura, que "poderá tornar o setor mais preparado no futuro caso um novo imponderável venha a acontecer". Não deixa, contudo, de tecer vários reparos à forma como a legislação foi feita: "O esforço de legalizar e profissionalizar é positivo, mas há coisas muito confusas no estatuto, próprias de quem não conhece a realidade, tratando como falsos recibos verdes quem, na realidade, é "free lancer"".
Embora os últimos dois anos tenham sido arrasadores para quem vive do palco, os Black Mamba tiveram em 2021 "um dos seus melhores anos". A "culpa" é do Festival da Canção RTP, a que se seguiu a Eurovisão, que empurrou a banda lisboeta para novos patamares de alcance e visibilidade.
À distância de um ano, o músico continua a ver a experiência como "uma superação total das expectativas". Se, em termos artísticos, a participação abriu novos horizontes na internacionalização, no capítulo humano o balanço foi também positivo.
Tatanka realça "o apoio inacreditável" recebido que "fez despertar um sentimento patriótico muito bonito". Os benefícios passaram também pelo contacto próximo com uma realidade da qual desconheciam os contornos.
Apesar de a Eurovisão "ser um "freak show, em que tanto ganha uma senhora que finge ser uma galinha como uma banda de puro rock", a presença foi "importante para a evolução da banda". Ou não se tratasse "do expoente máximo da tecnologia e do "showbiz"".
A cumprir 12 anos de vida, os Black Mamba continuam de saúde. "Uma família", diz Tatanka, que torna possível conciliar a banda com uma carreira a solo. "São projetos compatíveis, embora obriguem a uma organização estratégica muito delineada", aponta.
Digressão do novo disco arranca nos Países Baixos
Sonho de longa data dos Black Mamba, a internacionalização ficou mais próxima com a participação no festival da Eurovisão. O impacto de "Love is on my side" fez-se sentir de forma particular nos Países Baixos, onde a banda criou uma legião de fãs que poderá crescer ainda mais com o próximo disco, "Last night in Amsterdam", muito ligado àquele país.
A digressão promocional do novo disco vai começar precisamente na Holanda no final de outubro, com vários espetáculos já marcados para cidades como Amesterdão ou Roterdão. A agenda, ainda muito distante de estar concluída, prevê ainda passagens por palcos da Alemanha, Espanha ou Inglaterra.
"Os planos de levarmos a nossa música a mais locais estão a rolar sobre rodas. A Eurovisão veio abrir-nos muitas portas", diz o músico.
