Estreia esta quinta “Para Hilde, Com Amor”, o novo filme do alemão Andreas Dresen.
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Numa semana em que, felizmente, o espectador volta a ter várias opções para uma ida ao cinema, alguns títulos menos mediáticos correm o risco de passarem despercebidos e alcançarem resultados de bilheteira irrisórios, como tem vindo a acontecer nos últimos tempos com obras de inegável interesse.
É o que pode bem acontecer com a chegada hoje às salas de cinema de “Para Hilde, Com Amor”, do cineasta Andres Dresen, nascido na antiga República Democrática Alemã, e que se tem vindo a interessar por episódios históricos verídicos, mais ou menos perto de nós, mas com relevância atual.
Andreas Dresen, deliciara há dois anos a Berlinale com “Rabiye Kurnaz vs. George W. Bush”, que felizmente estreou em sala em Portugal, e regressou agora ao festival alemão não só com outra história retirada do real como fazendo também o cinema germânico regressar ao período nazi, com “Para Hilde, Com Amor”.
A Hilde do título foi uma jovem alemã que pertenceu a um grupo de resistentes e espiões, ajudando o marido a enviar mensagens para a União Soviética e que seria presa quando estava grávida. Hilde teve o bebé na prisão, ajudou outras mulheres na enfermaria, mas não seria poupada à pena de morte por traição.
O filme baseia-se no livro do filho, hoje com 80 anos. Um regresso a um passado que não se deseja que se repita, mas que infelizmente tem a sua justificação com a preocupante subida da extrema-direita em vários pontos da Europa, por vezes nem sequer renegando o nazismo. É necessário confrontar sobretudo os mais jovens com o lado maligno do nazismo, e um filme como “Para Hilde, Com Amor”, com a sua força narrativa, é uma ferramenta útil nesse sentido.
É que, além da sociologia ou da mensagem política que se esgota em si, “Para Hilde, Com Amor” é um comovente relato humano e uma obra de grande maturidade cinematográfica, desde o registo naturalista da vida empenhada mas feliz de um jovem casal à terrível e realista reconstituição da execução de Hilde.