Mexicana Julieta Venegas toca, quarta-feira, no Castelo de Sines no âmbito do Festival de Músicas do Mundo
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Há pessoas que não gostam de vírgulas, desprezam as orações subordinadas adverbiais explicativas e as adjetivas, e que não gostam de depender de uma oração principal para obter um sentido completo. É o caso da mexicana Julieta Venegas, que quase passava despercebida, na imensidão do cartaz do Festival Músicas do Mundo de Sines (FMM). Mas Venegas é em si uma oração completa com um prémio Grammy, nove Grammys Latinos e sete prémios MTV, entre muitos outros. Julieta é aquele tipo de cantautora que parece ter saído de um livro sublinhado a lápis, onde todas as frases estão em itálico e há uma nota na margem a dizer: “voltar a isto mais tarde”.
Em vez de adereços, usa o acordeão. Em vez de drama, oferece melancolia com doçura. “Me voy”, por exemplo, é uma despedida sem gritos, um bilhete na porta do frigorífico, assinado com um sorriso triste. Há quem confunda leveza com falta de profundidade, mas isso seria não ter ouvido “Lento” ao fim de um dia cheio, ou ignorar “Limón y sal”, onde o amor é aceite nas suas contradições, como quem diz: gosto de ti, mesmo quando não gosto.
As canções de Julieta não precisam de metáforas obscuras para tocar onde dói. São diretas, quase tímidas, mas entram devagarinho e ficam. O que Julieta leva para o palco de Sines é a herança pop latina com raízes bem fincadas na canção de autor, não tem vergonha de ser acessível nem medo de ser sensível. Numa edição do FMM onde os nomes grandes se escrevem em caixa alta, Venegas aparece em negrito. Se houver justiça nos alinhamentos do mundo, há de cantar “Eres para mí” e “Sin documentos” para que o público perceba o essencial: Venegas sempre foi uma oração principal. Mesmo numa fase em que canta La Nostalgia: “Te veo llorando, por el lugar que tú decías nunca extrañarías, de ningún modo”.
Julieta Venegas
"Tu historia" e "Limón y sal"
2022 e 2006