Festival Vodafone Paredes de Coura montou um palco-instalação e os festivaleiros não faltaram à chamada.
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De repente, estamos outra vez em 2017, Paredes de Coura celebra 25 anos de comunhão, e Benjamin Clementine entra em palco descalço, para protagonizar um dos mais arrepiantes concertos do festival. "Ali senti que nasci mesmo para a música", haveria de confessar, mais tarde, o britânico. Ontem Clementine voltou a Coura. No ar ouvia-se o músico dizer: "Juro que já me viste aqui antes". É Condolence, a canção que tantos ali cantaram de cor há três anos.
Este fim de semana não houve festival como era suposto, não há cartaz nem concertos para guardar, mas o palco está montado - exibe imagens passadas e música em permanência - e há festivaleiros e amigos que não faltaram à chamada.
"O palco deste ano é uma instalação que fizemos para preservar viva a memória de um festival que é de relações e ternura", explicou, ao JN, o diretor João Carvalho, a debelar sentimentos mistos. "Já vi aqui pessoas a dançar à chuva, a chorar, a abraçarem-se, a dizerem que vieram simplesmente porque Coura merece. Por isso, estou triste mas feliz ao mesmo tempo, pela onda de carinho tão grande."
Na relva do recinto, que nunca esteve tão verde, ao lado de João Carvalho, está o amigo, ator, DJ e indefetível do festival Nuno Lopes. "Não queria deixar de passar por cá", diz. "Além do carinho que tenho pelo João (não se conheciam antes de o ator tocar ali ano após ano), este festival é gigante mas também é familiar. E este é um daqueles momentos em que não podemos falhar à família."
Manter a tradição
Nuno Lopes não é o único a sentir que tinha de estar presente. Um grupo de três rapazes da Póvoa de Varzim está ali a acampar pela mesma razão. Não há muitas tendas nas margens do Taboão, mas vale o simbolismo. "Viemos para manter a tradição. É a cena de vir todos os anos", disse João Ferreira.
Duarte Areias, companheiro de viagem, é debutante, nunca ali esteve, mas este ano conta na mesma como primeira vez. "É uma estreia sem Paredes, mas é fixe na mesma. Consoante aquilo que me vão dizendo, vou tentando imaginar como seriam as coisas." Outro amigo, João Andrade, sossega-o. "Está tranquilo. Temos a musiquinha ali do palco." Ali e, seguramente, no próximo ano, uma vez que a organização promete regressar em 2021 "com o maior encore de sempre".
Até lá, há quem não resista a rumar à pequena vila minhota nos dias programados para o festival que, em circunstâncias normais, teria terminado ontem, talvez com Explosions in the Sky ou com Pixies.
É o caso de duas amigas, duas Anas, ambas do Porto. No sossego da relva, em frente ao palco-instalação, improvisam um piquenique ao som da música de Clementine. "Já viemos ao Paredes de Coura em edições anteriores, e é um festival que gostamos muito. Este ano, apesar de não haver festival, decidimos vir na mesma para vivermos algo mais nostálgico", explicou Ana Monteiro. Ana Martins acrescentou: "Viemos de manhã. Trouxemos a merenda e vamos aproveitar até ao fim do dia. Acima de tudo, este é um espaço bonito para estar".