A artista expõe cerca de uma dúzia de trabalhos em Cabeceiras de Basto.
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Entre 2020 e 2022, a monçanense Patrícia Oliveira (PT, 1983) desenvolveu um projeto de residência artística no município de Cabeceiras de Basto e, em particular, na Casa de Lã de Bucos com as mulheres que guardam o saber ancestral do tear. O Amar o Minho, programa de residências e intervenções artísticas promovido pelo consórcio MinhoIn e que reúne os 24 municípios do Minho, era o enquadramento do projeto que, ao longo de mais de dois anos e coincidindo com o período pandémico, trouxe ao território artistas para pensarem as suas identidades e as refletirem, de uma forma geral, em obras de arte para espaço público que partissem da ligação às comunidades.
No caso de Patrícia Oliveira, o trabalho em Cabeceiras de Basto teve eco também na produção e implementação de Pentefuso, uma obra de arte feita em vidro soprado suportado por uma estrutura em ferro, que se encontra no Parque Urbano de Refojos.
Não obstante a resistência da matéria e a forma criteriosa como a artista a pensou, talvez por desconhecimento ou apenas vandalismo injustificado, a obra foi alvo de ataques sucessivos, obrigando a artista a inúmeros restauros ao longo dos últimos dois anos. O culminar desse processo, que inclui a mediação e a informação à comunidade sobre a obra de arte e a ligação conceptual que estabelece entre o ato de pentear que a artista aprendeu no tear com as mulheres de Bucos e o órgão de tubos do Mosteiro de Refojos, está na exposição Da aparente fragilidade… que se inaugurou no passado dia 24 de maio na Casa da Cultura de Cabeceiras de Basto.
Patrícia Oliveira é mestre em escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, instituição onde também concluiu a sua licenciatura. A sua abordagem à escultura é transdisciplinar, tendo especial foco no espaço público natural e nas questões ligadas ao corpo e à performance. A sua prática artística caracteriza-se por uma forte experimentação e investigação de múltiplos meios e tecnologias, como são exemplo o têxtil e o vidro, onde tem desenvolvido projetos nos últimos anos, merecendo especial menção o seu perfil de fazedora e a relação que estabelece, tanto com o contexto industrial e a fábrica, como com práticas mais artesanais. A sua produção explora as possibilidades da natureza, revelando também interesse pela botânica e pelo saber ancestral ligado às plantas e aos rituais.
A originalidade do seu processo e o seu compromisso com a investigação, tanto teórica como prática, fazem dela um dos grandes nomes da escultura da sua geração. A par do seu trabalho de criação autoral partilha o seu conhecimento em diferentes projetos educativos, não apenas com crianças e jovens, mas também como docente no ensino superior, colaborando, nomeadamente, com a Universidade do Minho e o Instituto Politécnico de Viana do Castelo.
Em Cabeceiras de Basto, além de expor o processo que levou à produção e implementação de Pentefuso, procurando a aceitação da peça pela sua comunidade, apresenta cerca de uma dúzia de obras, fundamentalmente em vidro soprado e cujas formas repetem elementos e animais da natureza, quer na combinação com materiais como o sabão artesanal ou o gesso, quer na beleza pura do sopro certo que imita e interpreta os lugares que inspiram a artista.
Para ver até 20 de setembro de 2024, esta é uma exposição exemplo da aposta em programação cultural de excelência que tem sido feita por muitos municípios fora das grandes áreas urbanas, revelando a consciência de todos no poder transformador da arte e na importância da literacia visual para criar cidadãos mais informados, tolerantes e civicamente ativos.