Cantor canadiano está de volta aos discos com "Uh oh", álbum de colaborações em que participa a artista portuguesa Maro e que vai ser apresentado no Porto e em Lisboa em janeiro.
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De uma adversidade, fez-se encanto; de um choque da vida, nasceram pontes e magia. "Uh oh", oitavo disco de Patrick Watson, editado na passada sexta-feira, é uma coleção de músicas e de colaborações de pessoas e línguas de todo o Mundo; um caleidoscópio inigualável, que será apresentado ao vivo, no Porto (Casa da Música) e em Lisboa (LAV), a 14 e 15 de janeiro de 2026.
O disco nasceu de um susto: quando, em 2023, o cantor perdeu a voz em pleno concerto, devido a danos nas cordas vocais. Não sabendo se havia recuperação ou se era definitivo, algo foi claro; parar não era opção. "Para mim, a voz é um instrumento, como um piano; é muito importante, obviamente, para a minha conexão com o mundo, e para a conexão das pessoas comigo. Mas eu tinha tanto medo de perder a ligação às pessoas, que nem tive tempo de pensar no quanto gosto de cantar", conta ao JN.
O canadiano apostou em sintetizadores modulares e na composição instrumental, recorrendo à sua experiência em bandas sonoras; e pensou que seria "divertido escrever para outras pessoas, que cantam melhor do que eu". Agarrou na oportunidade para contactar um luxuoso grupo de artistas, desde referências que idolatrava há anos, como Martha Wainwright, até descobertas feitas no Instagram (a portuguesa Maro, ou Solann); uma referência local do Quebeque (Klô Pelgag), fenómenos como Hohnen Ford, November Ultra; uma vencedora de um prémio JUNO (Charlotte Cardin) e até uma amiga que conheceu quando ela trabalhava no café do bairro, Charlotte Oleena.
Embora a sua voz acabasse por recuperar, Watson optou por manter o plano original, e as canções para outros tornaram-se partilhas. "Não são duetos, são histórias que se cruzam", destaca. O resultado é um mosaico singular de sons, vozes, idiomas - ouve-se português, espanhol, francês - e de emoções, já que cada artista traz o seu mundo. "É o que eu gostei na Maro", conta ao JN. "Eu amo Portugal, e a
Maro encontrou uma forma de ter uma mistura moderna, com um pouco de fado, da nostalgia; a voz dela representa de alguma maneira tudo o que eu adoro em Portugal".
Cada tema, uma história
O álbum foi gravado em Montreal, Nova Orleães, Los Angeles, México, e Paris com uma abordagem minimalista, dois microfones e um ou dois takes. "Nunca fomos muito de produções elaboradas, sempre tentamos encarar cada canção como uma captura de um momento. De uma conversa, quase", destaca.
Para apresentar o disco, o cantor de Montreal decidiu usar a mesma ferramenta que o ligou a vários músicos; o Instagram. Na contagem do lançamento, foi apresentando os temas, um a um: a história da canção, o processo de composição, o convidado. Para Watson, é uma maneira de utilizar os meios sociais, "com tudo o que têm de mau, que sabemos que é muito", para o bom, para fazer pontes. "Já na Covid não sabia bem o que fazer, estávamos em plena digressão - fomos o último concerto, em seis diferentes cidades. Fui para casa, e pensei: "não há como partilhar música neste momento, sem ser esta, as redes". E comecei a criar vídeos com tutoriais", conta.
De repente, "tinha vídeos de centenas de pessoas a tocar as minhas canções. E pensei, "bem, eu fiz tours de imprensa e todas essas coisas diferentes, e é super interessante, ter estas conversas; mas a satisfação de ver isto, é outro nível"", refere. Agora, o processo foi semelhante: "usar esta ferramenta, para fazer isto o mais interessante possível, o mais mágico possível". Das histórias do disco, a preferida do cantor, é a de "Choir in the Wires", porque foi "um acidente". "Estávamos no México e um amigo disse que ia chamar várias vozes para audições, alguém que cantasse em espanhol, para fazer a tour. Mas apareceram todas ao mesmo tempo. Foi muito embaraçoso, então fingimos que, em vez de audições, estávamos a criar uma musica. E começámos a escrever ali, a música, as letras, e o coro ficou".
O disco chama-se "Uh oh" pelo grande "Uh oh" que o motivou, o susto, o "e agora?". Mas não só - a interjeição aplica-se a tudo, à atualidade, destaca Watson. Num Mundo cada vez mais politizado e polarizado, o cantor continua à procura da beleza: "para mim, pessoalmente, o meu trabalho é encontrar momentos; e criar coisas o mais bonitas possíveis para que as pessoas enfrentem o dia", conclui.