Paul Anka: "É incrível, o que escrevi na adolescência ainda influencia novos adolescentes"
Cantor do clássico dos anos 50 "Put your head on my shoulder", confessa-se ao JN. Este domingo, Paul Anka dá um concerto único no EDP Cool Jazz, em Oeiras.
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Marcou gerações, partiu corações e teve, ao longo de mais de seis décadas, um impacto muito maior do que revelam os seus temas cantados. É um herói no seu Canadá natal e um ícone vivo da música em todo o mundo: Paul Anka, cantor de clássicos intemporais, atua este domingo no EDP Cool Jazz, onde leva uma carreira de centenas de sucessos e álbuns novos para descobrir.
Dava - e deu mesmo- um livro, a vida de Anka: nascido em Ottawa, Canadá, teve o seu primeiro sucesso, "Diana", com apenas 15 anos e foi um dos primeiros ídolos teen na América do Norte e Europa.
Desde então e até hoje o cantor, à beira dos 81 anos, já vendeu mais de 10 milhões de álbuns e foi responsável por momentos chave da música, como a escrita da letra de "My Way" para Frank Sinatra ou a responsabilidade de ter apresentado os Beatles à América.
Mas há mais: participou em filmes, ganhou prémios, ajudou Michael Bublé a começar, co-escreveu o single póstumo de Michael Jackson "This Is It" e ainda a música-tema do "The Tonight Show", de Johnny Carson.
O JN falou com artista que em pandemia já lançou dois discos: "Making Memories" e "Sessions".
Alguma vez pensou que hoje, com 80 anos, ainda estaria a fazer isto em 2022?
Não! Repare, isto tudo começou comigo adolescente e só muito mais tarde acreditei que fosse algo para perdurar, mas eu tive muita sorte. Eu era um rapaz do Canadá, que antes de tudo escrevia sobre os seus sentimentos, não podia imaginar.
Sempre quis ser músico?
Desde muito novo. Lá está, comecei a escrever na escola, o meu pai queria que eu fosse jornalista e puseram-me numa escola onde tinha de aprender a escrever 70 palavras por minuto, mas quando comecei a tirar aulas de música percebi que queria aquilo. Depois quando fui a Nova Iorque e vi a cena musical decidi: poupei dinheiro, voltei no ano seguinte e fui à Paramount e foi como tudo começou.
Ainda gosta de andar na estrada? Quais são os maiores desafios?
Não há desafios, só gratidão. Humildade, sentir que nesta idade continuar a atuar, como o Jagger, o McCartney, é uma honra. O único desafio é manter-me saudável e por isso tomo conta de mim. Porque o meu público cresceu comigo e é por isso que tenho de ensaiar, ficar saudável e aparecer para as pessoas, para que, durante uns momentos, escapem deste mundo louco em que vivemos. Nada de desafios, só gratidão.
Começou como um ídolo teen, hoje nos seus concertos há pessoas que o admiraram a vida toda, mas também públicos novos. Como se tornou um fenómeno Tik Tok?
É uma história incrível: eu nem sabia o que era o Tik Tok, embora tenha um filho com 17 anos; e um dia apareceram umas raparigas à minha porta a cantar o "Put Your Head on My Shoulder" e fiquei chocado. Agora percebo e entendo a rede, mas na altura não tinha ideia, não fiz nada. Os miúdos hoje em dia, o que descobrem e abraçam depende deles, o acesso é ilimitado. E agora tenho miúdos jovens nos concertos e eu olho para eles e tento estar o mais cool possível para eles enquanto penso "o que aconteceu?" Mas é incrível, o que escrevi em adolescente ainda influenciar novos adolescentes, acontece mas a música é mesmo muito poderosa e tem destas coisas. Nunca perderemos a música e a sua importância na sociedade.
Mesmo com a pandemia, conseguiu lançar um álbum em 2021, outro agora; o que o inspirou?
Foi simples, no sentido em que ali estávamos, todos infelizmente sujeitos a isolamento e percebi que tinha muito tempo livre, que nunca tenho. Aproveitei para passar com a família, o que já tento fazer sempre que posso, mas comecei a sentir-me produtivo, inspirado, motivado.
De todas as músicas que fez, e imagino que isto mude com os anos, qual é atualmente a sua favorita?
Eu acho que de certa maneira olhamos para as nossas canções quase como filhos. E cada uma tem o seu significado, marcou-nos, eu comecei tão novo, o "Diana", o "Puppy Love" foram músicas que marcaram a minha vida, são honestas em relação ao que que vivia. Talvez tenha uma ligação especial com o "Put Your Head on my Shoulder", mas são tantas; o "My Way", tinha uns 25 anos quando escrevi a letra para o Sinatra, o "Let me Try Again" também para ele, que foi quando ele voltou da reforma e tem toda uma história, por isso são essas canções, que têm um significado.
Pode falar-nos da história de ser considerado em parte responsável por apresentar os Beatles à América?
É muito simples, eu fui à Europa ainda muito novo, e ao trabalhar lá fui ver um amigo meu em França e estava lá um grupo de rock chamado Beatles. E eu vi este concerto destes miúdos que ainda faziam praticamente só covers e conheci-os em Londres, e repare, não era uma sociedade de media como hoje; eles estavam ali a começar, a acontecer mas o resto do mundo não fazia ideia. Então cheguei a Nova Iorque, fui ter com o meu agente e falei deste miúdos chamados Beatles e ele dizia "Beatles, epa não" mas eu tanto insisti que ele os foi conhecer e depois os levaram até aos EUA, por isso eu sinto-me responsável: não é que não viesse a acontecer mas chamei a atenção e foi o que foi.
Há alguma banda que oiça atualmente, da qual seja fã?
Há tanta coisa. Eu divido os géneros em: bom e mau. Só. Há ótimo rap, pop, tens o Bruno Mars, Ed Sheeran, Beyonce, Harry Styles, Coldplay tanta coisa boa.
Depois de ter colaborado com nomes de Jerry Lee Lewies, a Frank Sinatra, Justin Timberlake e Drake, há alguém com quem ainda gostasse de colaborar?
Sim, tantos. Se o Elton [Jonh] quisesse, se surgisse uma oportunidade com o Sting, claro que quereria. E há rappers muito talentosos, tem tudo a ver com a linguagem, música e oportunidade.
Tem uma ligação especial com vários países da Europa, e o que pensa de Portugal?
Nunca passei muito tempo em Portugal mas tenho muito boa impressão. Das pessoas, do ambiente, da cultura, sinto que há uma paixão pela música. Estou ansioso por voltar, tudo o que sei e vi diz-me que seria um sitio perfeito para ter uma casa, passar temporadas.
Se quisesse que os seus fãs se lembrassem sobretudo de uma coisa em si, o que seria?
Queria que sentissem que o que fiz e criei os tocou ao longo dos anos o suficiente para os afastar da realidade. Que tem um significado. Que quando me vêm ao vivo ficam com uma impressão forte o suficiente para voltar. Que respeitam o meu profissionalismo e a forma como me entrego à arte e ao meu público. Porque a minha filosofia é: somos todos insignificantes e se percebermos isso e afastarmos o nosso ego podemos tocar as pessoas.