Fundação Cupertino de Miranda apresenta até 4 de janeiro uma dimensão menos conhecida da obra da celebrada artista.
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Paula Rego tinha 14 anos quando o pai lhe ofereceu um livro sobre o dadaísmo e surrealismo. Apesar de estar familiarizada desde muito cedo com o universo das artes plásticas, o impacto foi imenso. “Era como um livro de histórias; simplesmente maravilhoso, estar a ver aquelas ilustrações. Revelação, não posso dizer que fosse, pois para mim era exatamente como um livro de contos de fadas”, recordou a artista muitos anos mais tarde.
Nunca se tendo identificado com uma corrente artística em específico (era demasiado livre para tal), a sua naturalidade perante o surrealismo deixou, contudo, uma marca indelével do movimento em todo o seu percurso. Foi como se o tivesse assimilado e processado à sua maneira. Única e inimitável, portanto.
Em “Sonhos e metamorfoses: o surrealismo de Paula Rego”, exposição patente até 4 de janeiro na Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, vemos como a imagética do surrealismo foi importante para a artista num período em que ainda encetava uma procura da sua identidade artística.
Mais do que o academismo, a imaginação foi o principal agente propulsor da sua obra, o que também corresponde à propensão da fantasia de que o surrealismo se alimenta. Além da dimensão do sonho, a metamorfose é um dos eixos da exposição, comissariada por Catarina Alfaro, Marlene Oliveira e Perfecto Cuadrado.
“Todo o meu trabalho tem que ver com metamorfose. Ela surge na própria criação física do quadro, na tentativa e erro do trabalho”, afirmaria a artista, que estudou em Londres entre 1952 e 1956.
Ao percorrer estas obras, o visitante não tardará a descobrir vestígios de influências de artistas como André Beton em alguns trabalhos, sobretudo nas “pinturas-colagens” da década de 1960. O sonho também comandou Paula Rego.