
Adelino Meireles / Global Imagens
Homenagem da Universidade do Porto inclui ciclo de conferências e publicação de textos inéditos.
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Paulo Cunha e Silva (1962-2015) vai ser a Figura Eminente da Universidade do Porto (UP) em 2019. A nomeação foi proposta pela Faculdade de Desporto e aprovada por unanimidade pelo Senado da UP. "Vamos homenagear um pensador que foi maior do que a sua própria casa", exalta Fátima Vieira, vice-reitora para a Cultura da UP, segura de que a obra científica - grande parte permanece desconhecida - do antigo vereador da Cultura da Câmara do Porto irá "mobilizar toda a comunidade académica", como antes acontecera com a cidade. A interdisciplinaridade, que marca o ADN da obra do mestre, médico e professor catedrático, é o ponto de partida para um ano programático, que pretende acolher, também, "iniciativas espontâneas dos cidadãos". E que culminará com a publicação de um livro com ensaios e artigos científicos inéditos.
"É preciso separar a figura e o pensador", alerta Inês Moreira, arquiteta e antiga doutoranda de Cunha e Silva. "Teve um período muito inovador e surpreendente, de caráter experimental, que é preciso realçar".
Miguel Janeira, professor da Faculdade de Desporto, costuma dizer "que um ano não será suficiente para celebrar o seu legado". Foi este docente que em 2003, era então pró-reitor, desafiou Cunha e Silva, "mente agitada e tremendamente moderna", a comissariar o projeto para a primeira Figura Eminente. "Desenhou um programa elaboradíssimo, de enorme exaustão", lembra. A figura era Abel Salazar (1889-1964), médico, investigador e pintor, que influenciou decisivamente Cunha e Silva na sua forma de compreender o Mundo através de um pensamento morfológico da realidade centrada no corpo.
O Pensador
"O legado de Paulo Cunha e Silva está muito presente na cidade e sobrevive todos os dias", assegura Rui Moreira, autarca do Porto, que em 2013 o convidou para ser vereador da Cultura. "Foi um homem da Ciência e da Cultura, de forma abrangente e muito relevante".
Susana Medina, museóloga que assessorou Cunha e Silva na Porto 2001, insiste que "é necessário perpetuar o seu olhar e espírito académico. Sendo a transdisciplinaridade uma das bandeiras da nova equipa reitoral, esta nomeação é feliz".
Enaltecendo também a necessidade de "trazer para primeiro plano a sua dimensão universitária", Teresa Lacerda, docente da Faculdade de Desporto e colega de Cunha e Silva desde os anos 80, defende um programa que "consiga presentificar o Paulo, fazendo uma projeção para o futuro - porque o futuro sempre foi", sublinha, "a sua forma de estar".
Igualmente feliz com a nomeação, Carlos Miranda, médico e amigo de sempre, lembra a sua "brilhante carreira académica, as pontes extraordinárias que desenhou e as ligações transversais que fez", e das quais a "cidade líquida" será a criação mais visível.
Do lugar do corpo para o futuro
Foi pioneiro de conferências interdisciplinares em Serralves nos anos 1990, comissário da Capital da Cultura em 2001 e vereador da Cultura em 2013. Muito antes fez um percurso académico ímpar. Formou-se em Medicina no ICBAS com 20 valores e criou a cadeira de Pensamento Contemporâneo na Faculdade de Desporto. É autor de "O lugar do corpo", que encerra todo o seu pensamento e capacidade de importar o futuro para o presente.
