
Pearl Jam fecharam a edição de 2024 do NOS Alive
Fotos: Álvaro Isidoro / Global Imagens
Grupo fechou o palco principal no último dia do NOS Alive, há muito esgotado. Durante duas horas visitaram clássicos, tocaram “‘Imagine” de John Lennon e desdobraram-se em declarações a Portugal. “Já tenho saudades vossas”, dizia Eddie Vedder no final.
Sabemos que Eddie Vedder e os Pearl Jam gostam de Portugal, mas a dimensão desse afeto parece aprimorar a cada passagem por cá. Este sábado, no último dia de um NOS Alive esgotado, o grupo lembrou-nos o que justifica esta romaria, toda esta devoção ao longo de tantos anos. Um concerto de Pearl Jam em Portugal não é um concerto. É, fora de qualquer cliché, um encontro de amigos, daqueles que relembram memórias boas sempre que se revêem, e se sentem instintivamente confortáveis e nostálgicos, por mais tempo que passe. Para Eddie Vedder, os portugueses são “uma bênção”.
Às 23.15h de sábado, cinco minutos depois da hora marcada, o grupo entra com “Daughter”, logo o vocalista, de chapéu na cabeça, a parar de cantar em certos pontos do refrão para o público prosseguir, a pedir coros no final, a dar tragos numa garrafa de vinho: clássico Eddie Vedder.
Depois de “Dark matter”, do novo disco com o mesmo nome, começa, também já um clássico, a pegar no seu papel e a falar em português. E diz algo como “Boa noite, olá a todos. É assim que se faz um festival, perto do oceano e debaixo de um céu perfeito”, atira logo, perante uma ovação, acrescentando: “nós somos apenas uma banda de Seattle, mas vocês é que são mágicos”. Pegando na garrafa acrescenta: “então, faço um brinde a vocês e à última noite deste lindo festival”. Tudo em português, ainda que obviamente macarrónico.
“Animal” leva-nos a “Vs” de 1993 – portanto, há 31 anos – “Given to fly” a “Yeld”, de 1998, e logo o vocalista volta a dizer como o público – a enorme massa humana presente – é lindo visto dali. E explica que esta é a última noite antes do grupo ir para casa em Seattle, elogiando novamente o festival e as bandas que estiveram em palco antes, como as Breeders, ou os Sum41.
“Elderly woman behind the counter in a small town” precede “Wreckage”, do novo disco editado em abril, e depois “Why Go”, “Jeremy” para uma primeira passagem pelo disco de estreia do grupo, “Ten”, e ainda “Wishlist”.
Entra “Waiting for Stevie”, tema precisamente sobre a magia da música ao vivo, e depois de “Even flow” os elogios recaem em Matt Cameron, baterista que, para Eddie, é responsável em parte pela qualidade do novo disco, apresentando “Upper hand”, onde a destreza do ex-baterista dos Soundgarden, sobejamente conhecida, é novamente comprovada.
Ao vivo, é, aliás, mesmo óbvio como os Pearl Jam são muito mais do que a soma das partes; além de Vedder e Cameron, o baixista Jeff Ament, os guitarristas Stone Gossard e Mike McCready são indiscutivelmente músicos incríveis, icónicos, responsáveis por grandes solos ou pequenas jams – é sempre fascinante ver Ament e Gossard ao despique, frente a frente, no baixo e guitarra-, de um virtuosismo que imprime, não só obviamente um cunho muito especial à composição dos temas, mas também uma sensação maior de experiência completa ao vivo.
O resto da noite não anda, voa, e “Mind your manners”, “Once” e “Porch” levam a banda para encore.
De regresso, Vedder volta a elogiar o público, desta vez em inglês, garantindo que a banda não diz isto a todas as multidões – também não diz mal, brinca, mas nesse caso não diz nada – e que por cá é mesmo verdade, e tem a ver com a multidão mas também com momentos nas praias da Ericeira, ou na “bonita vila” de Cascais. “Tivemos ótimas experiências no vosso país e estamos muito gratos, e digo isso com todo o meu coração e da parte de todos nós”, frisa.
Volta também a elogiar o concerto e a “energia” transmitida, e é isso que se percebe: apesar da massa de gente, desta vez não houve coros intermináveis e constantes do público, aquele prolongar de músicas muito além do fim, as ovações de largos minutos, mas nem isso parece importar, porque a energia entre fás e bandas continua lá, sente-se, eles sentem-na.
Ao apresentar “Imagine” de John Lennon, o vocalista explica ainda como uma das memórias que tem de Portugal era tocar este tema, que tinha aprendido na véspera, num concerto; e que agora, estando o grupo a partir para o seu pais, um pais em dor, como tantos outros, e estando à procura de cura, o tema faz sentido. “É no povo que encontramos os líderes que eles não encontram neles próprios”, frisa.
“Black”, a música da vida de tantas vidas, volta a ser um momento impagável, e o encore termina com “Do the evolution”, “Alive”, “Rockin’ in the free world” e ainda “Yellow ledbetter”, o eterno tema que foi deixado de fora de “Ten” e editado como lado B de “Jeremy”, mas que de tão bonito, intemporal e nostálgico, ganhou vida própria e encerra os espetáculos do grupo, com beleza, intemporalidade e nostalgia.
Eddie Vedder tem 59 anos, é um homem de família, já não salta de andaimes para o público. A banda faz isto há mais de três décadas e muito mudou desde então – o grupo também mudou, nem sempre niveladamente bem-sucedido, entendido, apreciado. Em Portugal, no concerto do ano do NOS Alive, cheio até ao portão de entrada, percebeu-se – foi aliás verbalizado- como por cá os Pearl Jam se sentem apreciados. E como, parecendo que não, milhões de discos ou não, isso ainda importa para eles. “Nós somos abençoados, porque vocês nos abençoaram. Já temos saudades vossas”, despediu-se Eddie à saída.
