Primeiro concerto drive-in em Portugal, em Ansião, Leiria, trouxe momento forte de libertação a um público que dançou e cantou dentro do carro.
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"Todos nós estávamos a explodir para sairmos dos carros" e o primeiro concerto drive-in em Portugal, protagonizado por Pedro Abrunhosa, no sábado à noite, em Ansião, Leiria, conseguiu proporcionar esse momento de libertação.
O espetáculo, que apropriadamente arrancou com "Fazer o que ainda não foi feito", deu a Helena Vieira, que se deslocou de Lisboa para ver o concerto com uma amiga, o êxtase que a assistência vinda de todos os pontos do país precisava, quando os acordes de "Se eu fosse um dia o teu olhar" foram demasiado fortes para a resistência do músico e do público que ocupava os 70 carros estacionados no parque do Estúdio 33.
Abrunhosa desafiou um casal a dançar no espaço entre o palco e o estacionamento, mas a que responderam cerca de 30 pessoas, de máscara."Espero que a dra. Graça Freitas [diretora-geral de Saúde] não venha amanhã com uma multa, mas as pessoas dançaram sempre afastadas", declarou, depois, o músico. "Temos de manter o distanciamento e de nos adaptar a esta realidade."
Mas as surpresas continuaram logo a seguir, quando a banda desceu do palco para tocar "Acima & Abaixo" em andamento junto às viaturas. O músico começou por sugerir ao público que dançasse junto aos carros, enquanto entoava "distanciamento social, distanciamento social". Mas a maior parte das pessoas optou por se sentar nas portas, com metade do corpo de fora dos veículos, enquanto acompanhava a coreografia.
De regresso ao palco, o músico interpretou "Hallelujah", de Leonard Cohen. "Dedico esta música a todos aqueles que são mais do que números. São pessoas, vítimas da terrível pandemia, que juntos vamos conseguir vencer", afirmou.
E, num registo mais intimista, partilhou com o público que o pai se encontra numa "situação muito complicada", num hospital do Porto, pelo que, para homenagear a sua "bondade, honestidade e pureza", compôs "Tempestade", a sua mais recente música, gravada com Carolina Deslandes.
Buzinas em vez de palmas
Pedro Abrunhosa terminou o espetáculo com "Ilumina-me", mas no público não aceitou que o concerto tivesse acabado. Não se ouviram palmas nem gritos, mas sim mais dois minutos de muitas buzinadelas que convenceram os artistas a regressar ao palco. O som das buzinas dos carros tinha sido, aliás, uma constante ao longo do espetáculo, para responder aos pedidos do músico do Porto, que interagiu com o público ao longo de cerca de hora e meia.
De casaco de brilhantes vermelho, Abrunhosa voltou para interpretar as duas últimas canções: "Eu não sei quem te perdeu" e "Tudo o que eu te dou". No final, ainda houve tempo para agradecer a Luís de Matos pela " força, a coragem e a determinação". Foi o ilusionista que que promoveu o evento no seu espaço, onde tem também já espetáculos marcados. "Não podemos ficar parados, perante uma fatalidade. Não é o fim, é apenas um novo começo", declarou Abrunhosa.