O ministro Pedro Adão e Silva declarou, esta sexta-feira, numa conversa com cerca de 150 alunos do ensino secundário na Bienal de Arte de Vila Nova de Cerveira, que em Portugal existem "problemas sérios de acesso à Cultura". Defendeu que é preciso combater essa realidade, a começar pela aproximação e abertura do ensino aos mais diversos movimentos culturais.
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"As escolas vivem muito distantes e afastadas da cultura, desde logo nas aprendizagens", declarou, referindo que, enquanto professor do ensino superior, sentiu que "o ensino se foi tornando uma coisa rígida e formalizada, com uma relação de poder quase desigual, em que há um transmissor de conhecimento do professor e os alunos sentados numa sala a receber o conhecimento".
"Se queremos fazer das escolas territórios de cultura temos de começar a quebrar essa distância", afirmou, referindo que, "até na política cultural, naquilo que é a responsabilidade do ministério, há muitas vezes uma espécie de inclinação de pensar na alta cultura, que é a que acontece nos museus, nos teatros, nos livros e no resto da cultura".
"Nós infelizmente em Portugal temos problemas sérios de acesso à Cultura", disse Pedro Adão e Silva aos estudantes para quem falava e que, segundo o próprio, residem numa zona "distante de Lisboa e até do Porto, dos centros", embora contem com "uma exceção no país", que é Bienal. "Há obstáculos sociais, porque há pessoas que têm menos recursos para consumir cultura, e também distância geográfica e física, e temos de combater isso aproximando e dando oportunidade de fruição", referiu, deixando a mensagem, parafraseando T.S. Elliot, que a Cultura deve ser vista "simplesmente como aquilo que faz com que a nossa vida mereça ser vivida, aquilo que nos dá prazer".
E concluiu: "Gostava, quando terminar o mandato como ministro da Cultura, que se quebrasse essa barreira e houvesse disponibilidade de todas as instituições, escolas e ministério da Cultura, para ouvir e trazer as linguagens e a cultura que vêm de fora".
Pedro Adão e Silva falava, no âmbito de uma sessão dedicada à instalação artística "Viagem pelo Esquecimento", que está a ser exibida em três ecrãs no espaço da Bienal, e que ontem contou com a presença de dois dos seus autores, João Gil (música) e Ana Mesquita (videoarte). O projeto inclui 12 poemas de Mia Couto ditos pela voz de músicos como Maria Bethânia, Manuela Azevedo e Carlão, dos atores Diogo Infante e Natália Luiza e do radialista Fernando Alves.
Os estudantes foram chamados a assistir à instalação, mas no momento da sessão com o ministro e os artistas, ainda poucos o tinham feito. Ana Mesquita explicou que "a viagem", com duração de cerca de uma hora, convida "a perder a pressa". E João Gil, autor dos doze temas da banda sonora, adiantou que aquela obra, já exibida no MATT em Lisboa, "é para ir desfrutando". "Podemos ver duas peças da "Viagem pelo Esquecimento" ir embora e voltar outro dia e até ver toda a sequência, que é o que queremos que aconteça", disse.
Na sessão desta sexta-feira, tanto a diretora da Bienal, Helena Mendes Pereira, como o autarca local, Rui Teixeira, destacaram a importância da tutela apoiar aquele evento e atividade cultural na "vila das artes".