"Figura ativíssima" da vida cultural portuguesa, publicou a primeira obra na década de 1950.
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A escrita e a tradução foram duas paixões constantes na vida do poeta Pedro Tamen, falecido ontem, aos 86 anos, em Setúbal, onde se encontrava hospitalizado.
Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, o autor de "Um teatro às escuras" não demorou muito a trocar a advocacia pelo envolvimento literário. O primeiro livro, "Poema para todos os dias", saiu quando tinha apenas 22 anos, publicando a obra seguinte, "O sangue, a água e o vinho", dois anos mais tarde, antes de um silêncio que se estenderia por década e meia.
A irregularidade na publicação não significou menor empenho, antes um envolvimento amplo na causa cultural que não se esgotou na escrita. Esse dinamismo já se fazia notar quando, ainda como estudante universitário, dirigiu o jornal "Encontro" e ajudou a fundar cineclube Centro Cultural de Cinema.
Ao lado do amigo António Alçada Baptista, dirigiu, entre 1958 e 1975, a editora Moraes, ajudando-a a tornar-se uma referência no setor.
Vogal do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian durante 25 anos, presidiu ao P.E.N. Clube Português e foi dirigente da Associação Portuguesa de Escritores.
Tão significativa no seu percurso como a escrita foi a tradução. Durante mais de três décadas, traduziu dezenas de autores, incluindo Gabriel García Márquez, Reinaldo Arenas, Marcel Proust ou Gustave Flaubert, tendo conquistado vários prémios, como o atribuído pela Associação Portuguesa de Críticos Literários, em 1991.
As quase duas dezenas de livros de poesia que publicou foram reunidas na edição "Retábulo das memórias" (2013), com cerca de mil páginas.
Entre as distinções que viu serem-lhe atribuídas enquanto poeta constam o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, em 2010, e o Prémio Casino da Póvoa/Correntes d"Escritas, em 2011.
Numa nota publicada no sítio oficial da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa lamentou a morte de "uma figura ativíssima da nossa vida cultural e cívica, durante mais de meio século", recordando nomeadamente a sua intervenção "como militante de grupos católicos de orientação conciliar".
Por sua vez, a ministra da Cultura classificou Tamen de "figura maior da literatura portuguesa" e enalteceu "uma obra poética extraordinária, com um domínio magistral da língua portuguesa e das suas sonoridades".
As cerimónias fúnebres do poeta vão realizar-se amanhã, numa capela em Palmela, no distrito de Setúbal, apenas com a presença de familiares, devido às contingências da pandemia.