Rodrigo Moreno é um cineasta a descobrir em “Os Delinquentes”, filme que se estreia esta quinta-feira nos cinemas.
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O cinema argentino não pára de nos surpreender. No entanto, pode vir a fazê-lo: estão neste momento em cima da mesa do novo governo da Argentina um pacote de medidas que podem vir a pôr em causa o melhor do cinema que nos tem vindo do país nas duas ou três últimas décadas - e que é pontuado pela originalidade, criatividade e diversidade. Está mesmo a circular internacionalmente um abaixo-assinado para fazer pressão para que tal não aconteça.
Entretanto, chega esta quinta-feira às salas de cinema “Os Delinquentes”, o novo filme de um cineasta ainda pouco conhecido entre nós, Rodrigo Moreno, numa coprodução internacional ancorada no trabalho da Wanka Films, produtora de que recentemente se vira “Argentina, 1985”, de outro nome grande da cinematografia do país, Santiago Mitre.
Os delinquentes do filme são dois empregados de um banco de Buenos Aires. Um deles, com acesso privilegiado ao cofre-forte, rouba uma quantia equivalente ao que ele e um possível cúmplice ganhariam se continuassem a trabalhar no banco até à reforma. Convencendo um colega a esconder o dinheiro, entrega-se à polícia, sabendo que, caso tenha bom comportamento na prisão, poderá sair ao fim de três anos e meio.
Mas, como sempre acontece nos filmes de golpe, na vertente assaltos a banco, há um grãozinho na areia que vai baralhar os planos. Ou não. Só mesmo vendo o filme, que para “spoilers” já basta. E é precisamente a visão de “Os Delinquentes” que se torna uma experiência fascinante, numa espécie de suspense naturalista que se vai impondo ao longo das suas três horas de duração.
Rodrigo Moreno joga precisamente com o elemento tempo, num exercício de suspense naturalista e de ficção observacional, que nos identifica com cada uma das personagens centrais da história de tal forma queremos que tudo lhes corra bem. Em todas as decisões morais das personagens, somos nós também que as tomamos.
É, pois, significativo que as personagens se chamem Morán, Román, Norma ou Morna, variações das mesmas cinco letras. A herança de Borges a mostrar-se no cinema?