Jiro Taniguchi regressa às livrarias portuguesas, com um relato intimista sobre a importância das escolhas que fazemos
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De regresso a casa após uma viagem de negócios e uma noite bem regada, Hiroshi Nakahara, apanha por engano um comboio que o leva à sua cidade natal, onde não regressava há anos. De visita à campa da mãe, no cemitério local, desmaia e, quando acorda, constata que voltou ao seu corpo de adolescente, embora mantendo a consciência, a sensibilidade e a experiência dos seus 48 anos.
Se o pressuposto de "Bairro distante", acabado de editar em português pela Devir, é fantástico, a narrativa desenrola-se num tom profundamente humano.
Primeiro aturdido, depois aproveitando, quase inconscientemente, os seus conhecimentos para se destacar nos estudos e aproximar-se da rapariga mais bonita do liceu, por quem estava apaixonado, Nakahara, apercebendo-se que o que vivenciou no passado está agora a acontecer de forma diferente, vai tentar impedir um acontecimento traumático que o marcou profundamente: o desaparecimento do pai, que saiu de casa voluntariamente, e a consequente morte da mãe, dois anos depois.
Com poucos meses até chegar a data funesta, o relato de Jiro Taniguchi vai decorrendo em ritmo lento, sereno e intimista, para aprofundar as personagens e os seus sentimentos e levar o leitor a pensar na importância das escolhas que faz ou deixa de fazer, com uma angústia palpável que aumenta ao longo das páginas, entrecortada aqui e ali por pequenos apontamentos de humor provocados pela improvável situação que o protagonista vive.
Dividido entre a felicidade da nova existência e o medo de que as alterações que provoque no seu passado venham a modificar o presente que vivia antes do incidente e o levem a perder a família que tem negligenciado, Nakahara, à medida que a funesta data se aproxima, decide tentar evitar que a sua família se desmembre, mas acabará por compreender que as escolhas que se fazem ao longo da vida têm sempre consequências e que o equilíbrio entre perseguir os sonhos e a vida real é muito difícil de alcançar, embora certas experiências nos possam levar a mudar a nossa forma de viver.