O concerto de Bush na sexta-feira à noite no North Music Festival foi o reviver de uma época de ouro do rock, com incontáveis êxitos carregados de potência e sem baladas.
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A Alfândega do Porto estava praticamente cheia e todos estavam ali para ver Bush, banda que encabeçava o cartaz do primeiro dia do North Music Festival. No final, a satisfação era global, embora ficasse na cabeça de muitos a ausência de "Inflatable", a balada de afincado sucesso comercial do conjunto britânico liderado por um jovem Gavin Rossdale de 53 anos. Era mesmo precisa? Talvez não. Estavam ali todos para um serão de rock à moda antiga e todos os outros êxitos, a maioria dos anos 90, estiveram em plano de destaque.
Notava-se a maturidade do público que delirava sempre que um tema do álbum Sixteen Stone vinha à liça. Aquele disco marcou o arranque para a era de diamante dos Bush e a quantidade de boas músicas que deu ao Mundo ainda hoje fazem com que o alinhamento seja dominado por ele.
O primeiro êxito foi, no entanto, "The Chemicals Between Us", do disco Razorblade Suitcase, atirada logo à segunda música para júbilo da multidão sedenta de rock. Aos primeiros acordes, espaçados e de distorção carregada, todos percebem o que vem aí. Grita-se, depois ouve-se, por fim canta-se, enquanto um Gavin Rossdale em boa forma salta de um lado para o outro do palco. "Isto é tão bonito visto daqui", confessava o vocalista e guitarrista do quarteto inglês.
Apesar da vista que a Alfândega devia proporcionar a quem estava em cima do palco, Gavin saltou para o meio do público em "This is War", antes de "The Sound of Winter". O tema do álbum Golden State, de 2001, é algo que arrepia. Não há como não gostar. E pensar que foi com aquele álbum que os Bush estiveram perto de acabar a carreira em 2002, quando o insucesso comercial de um disco de qualidade se revelou desmotivador. Demorou, mas o tempo deu-lhes razão.
Pouco depois, um hino de 1996. "Swallowed" vive de um riff de guitarra lento e longo enquanto o público canta e recua uns anos até à adolescência. Ainda rarefeitos do momento, as luzes apontam para a multidão e entra "Everything Zen", outro clássico do álbum Sixteen Stone, que rebenta quando as luzes apontam para Gavin. Há rock à moda antiga, com muita energia, distorção, riffs seguros, muitos aos pulos nas filas da frente, outros atrás cantam de cor, e uma Alfândega que agradece o momento.
"Come Together", cover dos Beatles, é o tema com que regressam do Encore. Há danças sensuais amiúde, vozes vindas de todo o lado a cantar em uníssono e uma sensação agridoce, por um lado devido ao êxtase coletivo do momento, por outro por sabermos que tudo aquilo está a acabar.
Antes do fim, a mítica "Glycerine", dedicada "a todas as pessoas que perderam o caminho e se reergueram", disse Gavin. A despedida manteve a toada no disco Sixteen Stone, pela mão da poderosa Comedown, ao meio cantada à capela pelo público. Final extasiante, mas sem baladas, ao contrário do que muitos podiam esperar.
A Alfândega estava ali para o rock. Afinal, foi isso que procuraram quando compraram bilhete e a maioria fê-lo por Bush. Há, de facto, qualquer coisa que liga o público português àquela banda. Muitos reviram-se nos tempos de outra década. Aquele concerto era mais do que rock, era uma parte da juventude de cada um. Se dúvidas havia, o concerto provou-o, e não há como não ficar convencido com as sedutoras palavras de outra lenda do Rock, Nick Cave, proferidas há um ano a pouco espaço de distância dali: "And some people say it"s just rock and roll / Oh but it gets you right down to your soul".