Há concertos que oferecem a rara oportunidade de assistir à consagração de super estrelas em ascensão. Na noite de quarta-feira, o Hard Club, no Porto, assistiu em euforia a um desses momentos.
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E nunca mais conseguiremos chegar tão perto dos pés de Paco Amoroso e Ca7triel – este duo está agora destinado (e preparado) para os grandes palcos.
Catriel Guerreiro e Ulises Guerriero, mais conhecidos como Ca7triel e Paco Amoroso, respetivamente, subiram a palco perto de 20 minutos depois da hora marcada. Mas quem dera que todos os espetáculos que começam atrasados recompensassem na hora seguinte como aconteceu ontem. Desafiando o cliché que avisa que “nunca se deve dizer nunca”, a presença da dupla argentina dá-nos, pelo menos, duas certezas: dificilmente o Hard Club já tinha sido testemunha de tantos gritos em simultâneo; e nunca mais poderemos estar tão intimamente na presença destes dois.
O concerto de estreia em Portugal, integrado na digressão do seu primeiro trabalho homónimo, “Baño maría”, arrancou com o trunfo que deverá ter sido a causa de uma sala principal repleta: o Tiny Desk. Na primeira parte, Paco e Ca7triel apresentaram-se sentados, lado a lado, com a banda atrás de si. Óculos de sol e guarda-roupa impecavelmente escolhido sem ser chamativo. Arrancaram com o ambiente da sessão que catapultou a sua fama deste lado do Atlântico – intimo, mais acústico, menos artificial.
E quando se pensava que a fórmula do Tiny Desk seria a chave da noite de ontem – e ainda assim seria digno de aplauso – eis que se levantam. Eis que, entre músicas do álbum de estreia, incorporam faixas individuais de cada um deles. Eis que um tira o casaco e o outro a camisola. Eis que estamos, de repente, na presença de estrelas do rock que vão muito para lá do rock. E mostram-nos aquilo que tem vindo a ser a sua principal bandeira: são diversos, desafiam estilos e dominam aquilo a que se propõem (ainda que se possa achar que estão só aqui a brincar).
O trunfo da banda
Uma das certezas que se pode retirar de Paco e Ca7triel ao vivo na noite de ontem é que sabem o que estão a fazer. Além de acompanhados de quatro elementos de banda – dois de percussão, um de teclas e um baixo – finamente selecionados e que tornam este concerto pop musicalmente exímio, há ainda o brilho dos próprios. Sabem como estar em palco, sabem o gesto perfeito para a performance que querem dar e há ainda um Ca7triel a dominar a guitarra por diversas vezes.
Mas se o concerto foi diverso no que ofereceu – começando íntimo para terminar numa verdadeira parafernália de luzes, sons e movimentos digna de grandes arenas – a atitude do público foi sempre a mesma. O Hard Club nunca deve ter assistido a tantos gritos como na noite de ontem. Numa sessão em que o som, ainda que puxado ao máximo a certa altura, soava bem, a euforia do lado de cá sobrepunha-se ao que no palco se passava. E houve ainda os saltos, os corpos a dançar continuamente e as letras perfeitamente cantadas do início ao fim.
“La que puede, puede” vaticina uma das faixas da dupla. E esta pode bem ser um bom resumo dos próprios artistas. Eles sabem, eles podem e eles sabem exatamente como se constrói um espetáculo cativante e arrebatador – tendo atraído não apenas portugueses, mas uma miríade de nacionalidades que tornou o Hard Club um local verdadeiramente cosmopolita.
2025 está destinado a ser o ano de lançamento de duas super estrelas que primeiro conquistaram a Argentina e agora conquistam o Mundo. E já não há volta: Paco e Ca7triel nunca mais terão o tamanho da sala principal do Hard Club ou de qualquer outra semelhante. Rapidamente os veremos nos grandes festivais de verão e, depois disso, só grandes arenas chegarão para conter os gritos de euforia face ao seu talento. E aí lembrar-nos-emos do quão perto estivemos de Paco e Ca7triel naquela noite fria de dezembro, no Porto.