Teatro Nacional São João apresentou programação até ao verão pontuada por parcerias.
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Os últimos dois anos provam que "a realidade é mais estranha do que a ficção", afirmou Nuno Cardoso, diretor artístico do Teatro Nacional São João (TNSJ), no Porto, na apresentação do último quadrimestre da temporada 2021-2022.
As parcerias com estruturas do Porto são uma das linhas mestras do programa. A começar com " A estética da resistência", do Teatro Experimental do Porto. A obra baseada no romance de Peter Weiss tem adaptação cénica de Rui Pina Coelho e é encenada por Gonçalo Amorim [30 de março a 10 de abril no Teatro Carlos Alberto (TeCA)]. Na mesma linha, segue-se o novo trabalho da Palmilha Dentada, "Assim se fazem as coisas: Monumental revista antipopularuxos"(20 de maio a 5 de junho,TeCA), sobre "o movimento da revista como resistência durante a ditadura", disse Nuno Cardoso. Já André Amálio e Tereza Havlïckivá apresentam "A mina", sobre São Pedro da Cova, Gondomar (15 de junho, TeCA).
Outras parcerias nacionais farão regressar ao TNSJ o coreógrafo Paulo Ribeiro com "Segunda, 2" (14 e 15 de abril, TNSJ); o encenador Miguel Loureiro, com "Boom!", a partir de Tennessee Williams (6 a 10 de maio, TNSJ) e Tiago Rodrigues com "Catarina, ou a beleza de matar fascistas" (25 de junho a 2 de julho, TNSJ).
A cooperação com os Dias da Dança e o FITEI levarão ao teatro nacional nomes como Né Barros (22 e 23 de abril, TNSJ) e encenações de Guillermo Calderón ("Dragón", a 14 e 15 maio no TNSJ), além de "Distante" de Teresa Coutinho, a partir de Caryl Churchill (11 e 12 de maio, TeCA). A relação com as escolas e o território também terá lugar na programação de 23 a 29 de julho.
A Temporada Cruzada Portugal-França "tornará este quadrimestre muito interessante" com a apresentação de "Os irmãos Karamázov", de Fiodor Dostoiévski, encenado por Sylvain Creuzevault (29 e 30 abril, TNSJ), " uma abordagem interessantíssima da realidade que vivemos". Nesta linha, será também apresentado "Ils nous ont oubliés" (8 e 9 de julho, TNSJ), a partir de Thomas Bernhard, com encenação de Séverine Chavrier. "A Séverine é uma das grandes criadoras francesas que eu sigo e tento copiar, mas nunca consigo" , brincou Nuno Cardoso.
Outro destaque internacional é "Othelo" (21 e 22 de maio, TNSJ) de William Shakespeare, com encenação de Marta Pazos, da companhia espanhola Voadora.
Uma constante aflição
A grande produção da casa será "Ensaio sobre a cegueira", a partir da obra homónima de José Saramago, no âmbito do centenário do Nobel da Literatura. Estreia-se no Dia de Portugal, ficando até 19 de junho no TNSJ. A encenação de Nuno Cardoso conta com o elenco do Teatre Nacional de Catalunya. "A obra é horrível, de uma grande crueldade, mas tem um humor muito português" sublinhou Nuno Cardoso. Saramago disse sobre a sua obra que "são 300 páginas de constante aflição".
Fontes de financiamento e desejos de autonomia
Pedro Sobrado falou sobre constrangimentos
"Um reforço da autonomia administrativa dos teatros nacionais" foi o desejo expresso por Pedro Sobrado, presidente do conselho de administração do TNSJ, ao JN, a pouco tempo de se conhecer o próximo ministro da Cultura. Sobrado diz ter sido "garroteado por constrangimentos legais. Para a própria dignidade destas instituições, nós carecemos de uma autonomia administrativa que liberte este corpo ágil que é o corpo de um teatro nacional".
Nuno Cardoso, por sua vez, pediu que o novo ministro venha "passar um dia ao TNSJ, comece por ver o serviço educativo, veja uma montagem e à noite um espetáculo".
Pedro Sobrado referiu que "os teatros nacionais conheceram, no decurso dos últimos anos, um reforço financeiro para a sua atividade", mas acrescentou que, "contrariamente aos teatros nacionais de Lisboa, o TNSJ não foi contemplado diretamente pelo PRR, não viu atribuída diretamente nenhuma verba para os seus edifícios, para o património que lhe cabe gerir e administrar, mas está a fazer o trabalho de casa, o seu caminho, [e] submeteu há dias, três candidaturas de eficiência energética ao PRR". Resultado: "Ficámos com uma ferida narcísica mas sem prostração moral".