Festival traz 48 bandas ao Parque da Cidade, no Porto, entre esta quinta-feira e sábado. Há nomes escritos a fogo: Lana Del Rey, SZA, Pulp, Justice e PJ Harvey. Mas há também muitas bandas novas para descobrir.
Corpo do artigo
Cantoras de elite, bandas históricas, rock abrasivo e abertura a geografias pouco habituais – além do maior contingente nacional de sempre. Eis o instantâneo da 11.ª edição do Primavera Sound Porto, que se realiza entre esta quinta-feira e sábado no Parque da Cidade, acolhendo, em quatro palcos, 48 bandas.
A ameaça de chuva está de volta, mas ninguém deitará fora o bilhete. A noite de sexta esgotou há semanas – haverá 40 mil pessoas para Lana Del Rey e Justice – e as outras duas vendem a bom ritmo, ultrapassando já os 30 mil ingressos, apurou o JN.
Menos bandas do que no ano passado, uma explicação simples: as obras no pavilhão onde se localizava o Palco Bits. “Ainda pensámos numa alternativa, mas todas elas teriam impacto negativo na vizinhança: o barulho fora de horas traria danos reputacionais ao Primavera”, diz José Barreiro, diretor do festival.
Isto significa que vai tudo para casa mais cedo: Mandy, Indiana e Arca, números mais tardios a subir ao palco, já na última noite, deverão fechar a loja pelas 2.30 horas.
Palco maior está melhor
Melhorias no Palco Porto, o mais amplo dos espaços: choveram críticas à localização (distanciada das áreas frondosas do Parque) e às condições (odores, visibilidade) no ano passado. Mas há um facto incontornável, diz Barreiro: “É o único palco que sustenta a logística de certos espetáculos. Só a SZA vem com oito camiões”. Em compensação, diz o diretor, “haverá total desimpedimento na plateia, pois foram deslocadas as régies, que criavam estorvo.”
Sobre o cartaz deste ano, Barreiro responde com a filosofia do certame: “Tentamos sempre ser um mostruário da melhor música que se faz hoje em vários géneros, e não só a que vem do espaço anglo-saxónico, que é uma ínfima parte da produção global: queremos qualidade, venha ela donde vier”.
Neste ano, vem como nunca de Portugal, que apresenta mais de dez números, entre o hip hop (Classe Crua), o psicadelismo (Máquina) ou a música popular renovada (Ana Lua Caiano). Como acredita que há um revivalismo indie, o diretor põe as suas fichas em três projetos: Royel Otis e Amyl and the Sniffers, pela “energia e intensidade”, e Ethel Cain, pela “voz assombrosa”.
Femininos e masculinos em paridade
Vozes assombrosas não faltarão, sobretudo as que saem de cordas vocais femininas: no friso de estrelas encontra-se Lana Del Rey, delicada e ambígua, que atua finalmente no Primavera, depois do cancelamento do festival em 2020 por causa da pandemia.
SZA chega em chamas: o último álbum, “SOS”, já de 2022, foi louvado unanimemente pela crítica; preenche a quota de R&B e neo soul. PJ Harvey regressa a um lugar onde deixou felicidade em 2016 e traz novo repertório, no âmbito do rock alternativo: “I inside the old year dying”. E Mitski traz voz espiritual e atmosférica e também os novos temas de “The land is inhospitable and so are we”.
Departamento dos “big boys” com três saliências: a mestria dos Pulp, talvez a banda mais singular e ambiciosa de todo o universo da brit pop; a experiência e maturidade dos The National, que asseguram sempre os condimentos para uma boa pratada de indie rock; e o maximalismo eletrónico dos Justice, que transportam novas direções com o último “Hyperdrama” e também não pouparam em camiões.
Pormenor com importância: o Primavera Sound faz questão de projetar paridade e dar um equilíbrio 50/50 entre artistas masculinos e femininos no seu cartaz.
Rock de peso e a memória de Albini
No segmento da fúria, amplamente representado este ano, destaque para Mannequin Pussy, quarteto punk liderado por Marisa “Missy” Dabice; e para as descargas de Gel e Militarie Gun. Os sons exploratórios têm também presença significativa: especial curiosidade para a atuação de Tropical Fuck Storm, um mosaico retorcido de estilos, e para o ruído inventivo de Wolf Eyes.
No âmbito das “músicas do Mundo”, foco na renovação celta dos Lankum e no afro beat de Obongjayar.
E para quem acha que um Primavera sem Shellac não é a mesma coisa, haverá uma “listening party” especial para escutar "To all trains" o último álbum da banda que contou com Steve Albini, falecido de ataque cardíaco há um mês, aos 61 anos. Uma justa homenagem do Primavera a um artista recordista: figurou sempre em todos os cartazes, no Porto e em Barcelona, desde a primeira edição.