Primavera Sound Porto: Turnstile fecham última noite de concertos com velocidade escaldante
Norte-americanos serviram hardcore punk repleto de nuances e recursos este sábado à noite, no Parque de Cidade. Squid exploraram alquimias entre o jazz e o rock abrasivo. Jamie XX trouxe uma mesa de mistura e hora e meia de rave.
Corpo do artigo
Fim de festa em fúria na terceira noite de concertos do Primavera Sound Porto 2025. Houve ainda a eletrónica elegante de Floating Points como ato derradeiro, mas o último momento de canções, de catarse, de calor, coube aos norte-americanos Turnstile, número formado em Baltimore, EUA, em 2010, que debita um hardcore avassalador. A noite foi ainda marcada pelo art punk de Squid e pela rave de Jamie XX.
Habituamo-nos essencialmente à velocidade e ferocidade do género surgido nas duas costas dos EUA no final dos anos 1970. E se bandas como Dead Kennedys e Black Flag se destacavam pelo carisma dos vocalistas e por recursos musicais assinaláveis, a maioria dos grupos não se distinguia verdadeiramente uns dos outros: mais ou menos cacetada nos instrumentos, mais ou menos diatribes contra o sistema. Turnstile são bons herdeiros dessa parte musical que interessa no hardcore. Não por acaso tiveram dois singles extraídos do seu álbum “Glow on” nomeados para os Grammys em 2023.
No concerto desta madrugada, provocaram redemoinhos na plateia e sessões contínuas de mosh. A voz de Brendan Yates tem a clareza e a contundência de um Zack de la Rocha, o som encrespado e em guinadas lembra também as descargas de Rage Against the Machine. Mas há, além disso, a capacidade de introduzir intervalos para ambientes instrumentais, que fatalmente conduzem a mais estridência e velocidade. Longe de se limitarem a faixas curtas e ilegíveis, constroem efetivamente canções, com estrutura, com nexo, com ideias. Agora, o objetivo é sempre o mesmo: sacudir os ossos de quem os ouve.
Horas antes, no Palco Revolut, já a poeira se levantara com os britânicos Squid, número exploratório que combina jazz, punk e eletrónica. Têm como referência heróis do Krautrock como Neu! e bandas de avant-garde como This Heat. Não há um elemento central na banda, todos vão cantando, uns melhor que outros, e surpreendem pela inventividade do som, ora intenso e acelerado, ora progressivo e recheado de elementos. Vieram ao Mundo em 2016 e desde então lançaram três álbuns, sendo o mais recente “Cowards”. São ótimos para ir observando a composição de cada tema, já que nenhum deles repete a mesma sequência de ingredientes.
Entre os dois concertos, houve ainda a rave de Jamie XX, que visitara já o Primavera em 2012 com a sua banda de pop sonhadora The XX. Irrepreensível na qualidade, pareceu, no entanto, algo desajustada para um horário nobre, sobretudo se pensarmos que ainda vinha a caminho a sessão digital de Floating Points.