Primeiro dia a várias velocidades no Primavera Sound: houve excelência e algumas deceções
Amyl and The Sniffers e Ana Lua Caiano deram concertos exemplares. Blonde Redhead soaram datados. American Football só para adeptos. E os irlandeses Lankum cancelaram o espetáculo. Encarando o dia inaugural do Primavera Sound Porto como um semáforo, organizamos os concertos que vimos da seguinte forma:
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Luz verde - aprovação total
Amyl and The Sniffers. Concerto esmagador ao final da tarde. Uma gema punk vinda da Austrália, com raízes que tocam bandas como The Stooges e MC5. A vocalista é um tornado, impedindo quaisquer meias-tintas: ou se adere com fervor ou se dá corda aos sapatos.
Ana Lua Caiano. Surpreendente diálogo entre a música popular portuguesa e a eletrónica, entre o adufe e o bombo e as programações. Descobriu-se como artista a solo durante a pandemia, e entretanto lançou dois EP e o álbum de estreia “Vou ficar neste quadrado”. Artista a seguir com lupa.
Obongjayar. Um vislumbre de “world music” no Primavera. O nigeriano radicado em Londres mistura afro beat, eletrónica e soul, balança entre o rap, o canto e a spoken word, e põe toda a gente a vibrar. Coincidiu com SZA, o que significa que foram poucos a escutá-lo. Merecia outra visibilidade.
Luz Amarela - coisa tépida
Silly. Apesar da indesmentível qualidade da sua música, que muito deve ao trabalho do produtor Fred Ferreira (Orelha Negra, Buraka Som Sistema), houve um desequilíbrio entre o som intimista das suas canções e o palco colossal em que se apresentou.
Blonde Readhead. Tiveram um disco emblemático de pop sonhadora - “23” -, feito de canções etéreas e comoventes. Mas o repertório mais recente parece um eco esmaecido desse tempo áureo. A voz de Kazu Makino também não pareceu estar na melhor forma. Foi relativamente pífio.
American Fooball. Acrescentam pouco aos géneros que visitam - emo, pós-rock ou shoegaze. São melódicos, introspetivos e outonais. Funcionam melhor só com instrumentos, construindo texturas; a voz de Mike Kinsella é pouco entusiasmante. Cativaram os adeptos, serviram música para fazer ó-ó aos restantes
Luz Vermelha - fiasco
O cancelamento do concerto de Lankum, aparentemente por impedimento da banda. Era uma das apostas JN - música celta arreigada e sombria, uma abertura de latitudes para o festival. Foram substituídos pela folk de Maria Hein.