
Prodigy em Vilar de Mouros
Rui Manuel Fonseca/Global Imagens
Sem o célebre Keith Flint, os britânicos do “big beat” carregaram ainda mais no aparato eletrónico na noite de quinta-feira. Millencolin suaram as estopinhas com “hardcore” potente. The Bloody Beetroots apresentou “rave” cravejada de elementos punk.
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Sabia-se que não seria a mesma coisa. Sem Keith Flint, o animador retorcido, o “firestarter” que se suicidou em 2019, os The Prodigy perdem boa parte do seu património imaterial, o rosto e a atitude que os projetou como emblema da colisão do punk com a “rave”. Não era relevante musicalmente, mas era o alfa e o omega espiritual. Quer isto dizer que foi tudo uma tristeza? Impossível com o som dos criadores de “The fat of the land”. Foi mesmo o melhor concerto da segunda noite de Vilar de Mouros. E, no entanto, faltou ali qualquer coisa.
Nem terá sido só a ausência de Keith, alvo de homenagem quando a banda tocou indícios de “Firestarter”: a sua silhueta apareceu delineada a traços verdes no ecrã em fundo, o penteado inconfundível, os movimentos espasmódicos e ameaçadores. Foi também o modo como os The Prodigy pareceram esfarelar o seu repertório, fragmentando as músicas, multiplicando variações e distorções, confundindo-as umas com as outras, aproximando-as de um som mais dominado pelo “tecno” do que pela tensão entre a eletricidade e a eletrónica que marcou os primeiros álbuns.
Maxim Reality, o motor criativo da banda, foi um guerreiro desde a abertura, com “Breathe”, à missiva final, a versão robótica de “Out of space”, de Bob Marley. Mandou agachar o público, fê-lo correr em círculos, incitou constantemente à catarse. Momentos altos, a reverberação brutal em “Smack my bitch up”, uma coisa física, capaz de provocar colapsos; a interpretação furibunda de “Invaders must die”; e a legibilidade de “Voodoo people”, um dos poucos temas que manteve a integridade. Para quem os viu noutras épocas, terá sido curto. Quem os conheceu agora, não esquecerá a bordoada.
Recorde de “motherfuckers”
Antes dos excêntricos de Essex, atuaram os suecos Millencolin, que praticam um rock abrasivo, bateria com passada de mastodonte, guitarra suja e angulosa, vocalização rasgada. Exploram várias direções do “hardcore”, do melódico ao da velocidade escaldante mas, na verdade, acrescentam pouco.
A fechar a noite, a proposta do italiano Sir Bob Cornelius Rifo, mentor do projeto The Bloody Beetroots. Apresentou-se de máscara preta a lembrar a personagem Venom e visual de mercenário, tendo assegurado, provavelmente, o recorde deste ano no que toca a dizer “motherfuckers”. O ecletismo das suas relações, que vão de Etienne De Crecy e Steve Aoki a bandas obscuras de punk, refletiu-se no set que apresentou. Andou pelo “electro house” e o “dubstep”, pareceu por momentos mais apropriado para atuar no Sudoeste do que em Vilar de Mouros, mas terminou com “samplagens” de “punk vintage” e encontrou algum equilíbrio com a tradição deste festival.
Os concertos seguem esta sexta-feira no Alto Minho com Bizarra Locomotiva (19.15 horas), Apocalyptica (20.45 horas), Within Temptation (22.15 horas) e Pendulum (00.15 horas).
