Oliveira é mais conhecido pelos seus filmes de longa-metragem mas, apesar de, por vezes, levar aos limites o conceito de duração no cinema - "Le Soulier de Satin" ultrapassa as sete horas de projeção - é tão ou mais emérito realizador de curtas-metragens.
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Por outro lado, não será também fácil encontrar um outro homem capaz de alternar ficção e documentarismo com a mesma qualidade e profundidade de Oliveira. O realizador começou a sua extensa filmografia com uma ode à sua cidade, o Porto, passou alguns anos da sua carreira mais dedicado a este género cinematográfico e a ele volta com uma regularidade tal que quase parece uma necessidade.
Além disso, o homem dos planos fixos começou por dominar as teorias da montagem, o homem da palavra filma como ninguém os silêncios, e se pessoas ficam tão bem na sua câmara, é nas estátuas, nas casas, nas naturezas-mortas enfim, que o seu cinema se mostra mais vivo.
Eclético, mas fiel aos seus princípios, abordando cada filme como se o fosse o primeiro, procurando sempre coisas novas. Um dia, ainda se fará verdadeira justiça em relação à obra de Manoel de Oliveira e à sua importância para um cinema que, muitas vezes nos esquecemos, se é espetáculo e entretenimento, também é, com alguma esquizofrenia à mistura, a chamada 7ª Arte.
Mannoel de Oliveira morreu, esta quinta-feira, aos 106 anos.