Pulp montaram despedida de solteiro para Jarvis Cocker e nós fomos todos convidados
Britânicos levam a coroa de melhor concerto da edição 2024 do festival que terminou este sábado no Parque da Cidade, no Porto. Pela música, pelas letras, pela performance notável do vocalista. Não podemos pedir muito mais de uma atuação. “Tentamos dar 110 por cento”.
Corpo do artigo
Jarvis Cocker vai casar na próxima semana - “É a última vez que me veem ao vivo com esta mão sem anel!” - e nós assumimos que o concerto no Primavera Sound, este sábado, foi a sua despedida de solteiro. E que despedida... Sem borracheiras, sem infidelidades, sem arruaças - apenas música, enorme música, e um amor infinito entre convidados e noivo. Na última noite do festival ergueu-se o espetáculo mais glorioso desta edição. E houve concorrência forte.
Vamos já contar um episódio que é sintomático da ligação profunda que se criou entre o público e os Pulp, banda que foi sempre uma classe à parte no universo da brit pop: concerto já avançado, as luzes, sempre magníficas, indiciam momento íntimo: Jarvis prepara-se para cantar a balada “LIke a friend”, tema menos conhecido entre as massas. Só voz e guitarra. Pois todo o burburinho que restava do tema anterior, “Sunrise”, e o habitual falatório durante os concertos, foi energicamente calado por demasiadas vozes para que houvesse insistência. E assim, coisa rara, muito rara em festivais desta dimensão, escutou-se sem um pio a canção de Jarvis: “Come on and kill me, baby / While you smile like a friend”.
Para chegarmos a este ponto, já tinha havido capitulação face à música dos Pulp, poetas do quotidiano que captaram como ninguém, nos anos 1990, as ressacas amorosas e os desenganos da vida, sempre com elegância, ironia e um sentido de busca pela felicidade. Porque nunca foi banda cínica ou amarga.
Desfilaram pelo álbum mais icónico, “Different class” (1995), soltando hits reconhecidos por muitos e descobertos com entusiasmo por outros, como “Disco 2000”, “Something changed” ou “Mis-shapes”, mas trouxeram também o mais carregado “This is hardcore” ou o frenético “Do you remember the first time?”, do álbum “His ‘n’ hers” (1994). Em vários momentos remexeram as músicas, acrescentando elementos eletrónicos e outros instrumentos, porque Jarvis queria “rave” antes de casar.
Impecavelmente instalados num cenário que convocava a linguagem gráfica da banda, escadaria com patamares luminosos, imagens pop a vibrarem na tela e memórias de videoclips do passado, os Pulp apresentaram-se em formato alargado, com sete músicos distribuídos pelo palco e a figura de Jarvis, esguia e algo desengonçada, a comandar o show.
Terminaram, fatalmente, com “Common people”, a sua joia de popularidade, e dedicaram-na ao público, gente comum que ali estava, cada um no seu filme mas em comunhão diante de um concerto que ficará na memória. Parabéns, Jarvis, felicidade para os dois.