Pintor modernista português integra exposição no célebre museu norte-americano, que também exibirá pinturas de Eduardo Afonso Viana. Outros artistas representados são Robert e Sonia Delaunay, Marcel Duchamp, Francis Picabia e Morgan Russell.
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"Harmonia e dissonância: Orfismo em Paris, 1910-1930", uma grande exposição a inaugurar em novembro no Museu Guggenheim de Nova Iorque, nos EUA, vai contar com duas pinturas do português Amadeo de Souza-Cardoso. A mostra debruça-se sobre as "possibilidades transformadores da cor, da forma e do movimento em obras de arte criadas por um conjunto transnacional de artistas que exploraram a abstração no começo do século XX", revelou o célebre museu.
As duas obras de Amadeo (1887-1918) são "Estudo B", uma composição pontilhista de abstração circular pintada em 1913, e uma pintura do mesmo ano com título desconhecido, ambas provenientes da coleção do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Haverá ainda obras de outro modernista português: o pintor Eduardo Afonso Viana (1881-1967) vai estar também representado na mostra.
Organizada por Tracey Bashkoff, diretora de coleções e curadora, e por Vivien Greene, curadora de arte do século XIX e início do século XX, a exposição irá exibir obras selecionadas de artistas como Robert Delaunay, Sonia Delaunay, Marcel Duchamp, Mainie Jellett, Frantisek Kupka, Francis Picabia e dos sincronistas Stanton Macdonald-Wright e Morgan Russell.
A exposição vai ser acompanhada pela publicação de um catálogo aprofundado que vai situar o movimento no tempo e as suas influências, com edição de Vivien Green e contributos de vários especialistas, incluindo a professora portuguesa de História de Arte Joana Cunha Leal.
Robert e Sonia Delaunay em Portugal
Amadeo de Souza-Cardoso teve uma vida curta e intensa em Paris, onde contactou com os artistas modernistas, e regressou a Portugal no início da Primeira Guerra Mundial como um pintor reconhecido nos meios da vanguarda, tendo morrido com 30 anos, de gripe pneumónica.
Participou em exposições coletivas em Paris, Berlim, Nova Iorque, Chicago, Boston e Londres, e chegou a exibir e a vender os seus trabalhos nos Estados Unidos, sendo considerado pelo crítico de arte norte-americano Robert Loescher "um dos segredos mais bem guardados do início da arte moderna".
Robert Delaunay e Sonia Delaunay - um casal de artistas que se destacou no impulsionamento do Orfismo - viveram cerca de um ano em Portugal durante o período da primeira Guerra Mundial, e travaram conhecimento com os artistas portugueses Amadeo de Souza-Cardoso e Almada Negreiros, de quem se tornaram amigos.
O Orfismo foi transformador
"O Orfismo surgiu no início da década de 1910, quando as inovações trazidas pela vida moderna estavam a alterar radicalmente as conceções de tempo e espaço. Os artistas ligados ao Orfismo envolveram-se com ideias de simultaneidade em composições caleidoscópicas, investigando as possibilidades transformadoras da cor, da forma e do movimento", contextualizou o Guggenheim num texto sobre a mostra.
A palavra orfismo fazia referência a Orfeu, o poeta-cantor da mitologia grega, e refletia o desejo dos artistas envolvidos em acrescentar um novo elemento de lirismo e cor ao cubismo intelectual de criadores como Braque, Picasso e Gris.
"Harmonia e dissonância: Orfismo em Paris, 1910-1930" vai estar patente no Museu Guggenheim, em Nova Iorque, de 8 de novembro de 2024 a 9 de março de 2025.