A decisão final só deverá chegar no final de 2022, mas a corrida, essa, já está em marcha: qual vai ser a quarta cidade portuguesa a ostentar o título de Capital Europeia da Cultura (CEC), sucedendo a Lisboa 1994, Porto 2001 e Guimarães 2012?
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Embora os prazos de oficialização só terminem no final do ano, 11 cidades já acionaram o respetivo plano de candidatura para partilharem o evento em 2027 com uma cidade da Letónia.
Num país cujos sucessivos governos atribuem à Cultura uma fração microscópica do Orçamento, tamanho entusiasmo não pode deixar de ser considerado surpreendente. Todavia, se se levar em consideração o investimento que o evento traz, o espanto diminui consideravelmente. Só na programação cultural direta, a cidade vencedora tem ao seu dispor 25 milhões de euros vindos do Quadro Financeiro Plurianual, mas a essa verba há que acrescentar o acesso generoso a fundos comunitários, entre outras benesses. Há quase uma década, Guimarães viu ser investidos mais de 100 milhões de euros, que serviram para renovar um conjunto de equipamentos e dar um novo fôlego ao turismo local.
Caras conhecidas dão uma ajuda
Talvez por isso, todas as candidaturas contactadas tenham assumido que, a par da aposta cultural, os projetos concentram também uma vertente urbanística significativa.
Os muitos milhões que estão em jogo ajudam a explicar ainda que várias cidades tenham procurado requisitar figuras (re)conhecidas para lugares de relevo, aumentando assim o grau de visibilidade das respetivas candidaturas. Se Coimbra escolheu o ilusionista Luís de Matos e Aveiro o antigo comissário europeu Carlos Moedas, Oeiras requisitou os serviços do gestor Jorge Barreto Xavier, enquanto a Guarda recorreu ao arquiteto e curador Pedro Gadanho.
Viana do Castelo
Da ligação ao mar à parceria galega
A partir do mote "Um mar de Cultura", a candidatura vianense promete estreita ligação com cidades da Galiza, tendo como eixos a promoção de novas criações artísticas e a valorização autoral. O projeto de ampliação do Museu de Artes Decorativas é um dos novos equipamentos previstos. "Mesmo que não sejamos escolhidos, o trabalho programado poderá ser executado, pois a estratégia cultural que está por detrás da candidatura é o mais relevante", reforça o presidente da Autarquia, José Maria Costa.
Braga
Media Arts Center como forte aposta
Membro desde 2017 da Rede de Cidades Criativas da UNESCO, a multissecular urbe minhota vê na possibilidade de vir a ser CEC "uma evolução natural e lógica" do trajeto percorrido, consubstanciado na Estratégia Braga Cultura 2030. Espaços dinâmicos, como o Theatro Circo, Gnration e Altice Fórum, terão um peso importante na programação, a par da transformação do antigo Cinema São Geraldo num Media Arts Center e na reconversão da Escola Francisco Sanches em equipamento cultural. Além dos 25 milhões de euros anunciados, a candidatura espera obter recursos públicos superiores.
Aveiro
Natureza e "high tech" como eixos
Os 557 mil euros investidos este ano são um indicador da ambição que Aveiro coloca neste processo. "A candidatura faz parte de um projeto mais vasto de intervenção no território", adiantou fonte do projeto, que destaca o impacto previsto na "requalificação urbana ambientalmente sustentável" ou nas "políticas educativas que promovam o ensino artístico". Alicerçado nos vetores "Cultura, Natureza, Tecnologia & Soul", o programa encontra-se ainda na fase inicial de preparação.
Guarda
Uma região inteira a apoiar
O município da Guarda não concorre sozinho: em seu redor estão 16 municípios, envolvendo 230 mil pessoas. "Para a Europa, este pode ser um laboratório concreto sobre como transformar positivamente as regiões de baixa densidade que foram surgindo um pouco por todo o seu imenso território", afirma o presidente da Autarquia, Carlos Chaves Monteiro. Os pontos-chave são o reforço das redes culturais, a atração de talento e a dinamização das acessibilidades. Do orçamento total, os municípios vão assegurar 15% a 20% da verba, com a Guarda a assumir metade dos encargos.
Coimbra
"Valorizar a cidade e a região"
O município de Coimbra não esperou por 2027 para dedicar uma fatia das verbas à CEC. Os 500 mil euros do orçamento participativo deste ano foram destinados a sete projetos que antecipam o evento junto da população. Sob o lema "Correntes de mudança", a candidatura quer "unir e reunir toda a cidade em consensos alargados e para valorizar Coimbra, a região e o país".
Leiria
Um corpo com 26 membros
Leiria foi a primeira cidade a arrancar e quer manter a vantagem. Já foram desenvolvidas atividades que mobilizaram figuras como Tolentino Mendonça ou Gonçalo M. Tavares, atraindo 100 mil pessoas. Com 600 mil euros já investidos, Leiria 2027 tem "uma natureza e uma identidade" vincadas: "A de ser uma rede de 26 municípios que se encontram através da cultura para se traduzir e transformar em intérpretes efetivos da cultura europeia, desde agora e até 2027".
Oeiras
Investimento de 400 milhões
No terreno desde março do ano passado, a candidatura de Oeiras é a parte mais visível de um plano que abrange a requalificação urbana, apontando para um valor global cifrado em 400 milhões de euros. "É um projeto estruturante que atribui à Cultura um vetor estratégico decisivo", reforça Jorge Barreto Xavier, antigo secretário de Estado da Cultura que coordena a comissão oeirense. A transformação do Convento da Cartuxa num centro de arte contemporânea é um dos eixos de Oeiras 2027.
Évora
Reconversão já está em marcha
Já com várias obras em curso - Palácio D. Manuel (1,5 milhões), Teatro Garcia de Resende (2 milhões) ou o Salão Central (3 milhões) -, Évora 2027 espera ainda vir a contar "com a reconversão de espaços e a criação de novos", adiantou fonte do município ao JN. Encarada como "um processo de transformação urbana e societária", a candidatura estima que 10% do orçamento venha de fundos locais.
Faro
Estratégia vai para lá de 2027
2027 não é o fim último da candidatura algarvia, que prevê gastar 400 mil euros este ano. O responsável, Bruno Inácio, salienta que "a execução da estratégia cultural inicia-se antes do ano do título e continua após o mesmo". A candidatura envolveu mais de 400 pessoas, e entidades como a Região de Turismo e a Universidade.
Ponta Delgada
"Projetar riqueza cultural açoriana"
Anunciada há um mês, a candidatura de Ponta Delgada, apoiada pelo Governo Regional Açoriano e pelas ilhas da Terceira e do Faial, é vista pelos promotores como "uma oportunidade para projetar a diversidade e riqueza cultural açoriana".
Funchal
Saber quem consome cultura
Única candidatura que não respondeu às perguntas enviadas, Funchal começou por promover um estudo com o objetivo de conhecer o perfil dos consumidores locais de cultura.