Quando morrem 9 pessoas por hora, não são os outros que estão a morrer, somos nós.
Quando morrem 200 pessoas por dia, nove pessoas por hora, não são os outros que estão a morrer, somos nós. Como pessoas, como sociedade, como país. E não, a culpa não é apenas do Governo, é individual, é de cada um de nós. Nunca foi tão fácil salvar uma vida, basta ficar em casa. Como é que temos a coragem de prescindir disso?
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No jornalismo nunca falamos na primeira pessoa, tudo o que dizemos ou escrevemos é diluído na terceira pessoa do singular ou do plural. As notícias, as histórias são sempre sobre o outro, sobre os outros. E é assim que deve ser. Na Cultura, as sugestões que fazemos, mesmo quando resultam de escolhas pessoais, são sempre também para os outros.
No início deste ano, no JN, criámos uma rubrica nova, chama-se Arte do Dia, e é publicada todos os dias, ao nascer do sol, apenas no site. É um conjunto de cinco obras que tivemos a sorte de ver, ler, ouvir ou experimentar e que, por uma ou por outra razão, entendemos que pode interessar aos leitores. É uma partilha que fazemos com a intenção e a expectativa de poder contribuir positivamente para acrescentar e melhorar o dia do alguém, todos os dias.
Hoje, excecionalmente na primeira pessoa, partilho apenas a conversa entre Bruno Nogueira e o médico Gustavo Carona, na esperança de que um canal não convencional consiga penetrar o coração e o cérebro da maioria e convencê-la finalmente a fazer só uma coisa: estar quieta. Se não é por respeito pelo outro, se não é por solidariedade com o outro, e se também já não é por medo, que seja apenas por vergonha.
Quando morrem 200 pessoas por dia, nove pessoas por hora, não são os outros que estão a morrer, somos nós. Como pessoas, como sociedade, como país. E não, a culpa não é apenas do Governo, é individual, é de cada um de nós. Nunca foi tão fácil salvar uma vida, basta ficar em casa. Como é que temos a coragem de prescindir disso?
Nota: Em Portugal, as reservas de sangue chegam apenas para quatro dias. Ouçamos o repto da Clara Não. Se é para sair, ao menos que seja para dar sangue.