A música como sinónimo de mudança e novas esperanças
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Drama em 9 episódios, “Sinfonia em tons de azul” é uma produção grega que tem por cenário a bela Paxos, uma das Ilhas Jónicas.
O ponto de partida, é a chegada de Orestis Emmanouil (interpretado por Christoforos Papakaliatis), um maestro contratado para organizar um festival de música que promete ser o grande acontecimento cultural local e um bom trampolim para os sonhos políticos de Fanis (Fanis Mouratidis).
Com Orestis e com a (sua) música, chega para alguns dos habitantes locais um vento de esperança, o secreto anseio de que algo mude numa sociedade fechada sobre si mesma, convertida numa estrutura apodrecida, construída sobre aparências e enganos, mentiras e meias verdades. Porque, escondida pela aparência paradisíaca da ilha, que ofusca, distorce e oculta a triste realidade, vivem pessoas cujas vidas vamos conhecendo aos poucos, afectadas por prepotências várias, violência doméstica, opções sexuais não consentidas e amores desencontrados. A atracção mútua entre Klelia (Klelia Andriolatou), filha de Fanis, e Orestis revela-se inevitável, se bem que ele, bem mais velho que a curvilínea e sensual jovem, tente resistir ao que parece inevitável.
Com esta base, é construído um drama misto de tragédia e romantismo, em que cada episódio se centra num dos protagonistas, revelando segredos e anseios, sonhos perdidos e as razões para a chegada à ilha ou para a sua permanência nela. Para além disso, os minutos finais de cada capítulo são reservados para a introdução, progressiva e insidiosa, de imagens que revelam alguém a desfazer-se de um cadáver, sendo que só quase no fim descobrimos todos os intervenientes e as razões para o acontecido, concluindo “Sinfonia em tons de azul” com a acção a decorrer em paralelo e em crescendo em vários níveis temporais, em que assistimos ao crime, ao festival e ao seu desfecho.
Se a chegada de Orestis trouxe ventos de mudança e não deixa nada como antes, a verdade é que, como refere alguém, "nada muda nunca; às vezes, quando lhes dá jeito, fazem algo falso e salvam alguns de nós". Infelizmente em Paxos são muitos aqueles que há para
salvar e poucos os que atingirão a salvação, num relato com a música como mote, o amor e as paixões em equilíbrios instáveis e a vontade de partir e seguir em frente sem olhar para trás, constantemente confrontada com o medo, o risco e a falsa segurança do quotidiano repetitivo e monótono mas conhecido.
"Sinfonia em tons de azul"
Com Christoforos Papakaliatis, Haris Alexiou e Maria Kavoyianni
Netflix, 2022

