<p>São 14 horas, em Liverpool. As ruas ficaram desertas e um sol fulgurante de Verão ilumina o casario laranja. É uma autêntica cidade fantasma dos velhos "westerns" americanos, sem vida, sem alma, vazia de movimento, sem gente e sem automóveis a desafiar as leis do trânsito. </p>
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É um cenário estranho e angustiante, envolvido por um calor quase mediterrânico e nada típico do noroeste inglês. Enquanto Liverpool se afunda num buraco estranho, os telemóveis são meras peças decorativas vetadas ao silêncio, incapazes de emitir qualquer som. Não funcionam, porque o mundo calou-se.
Na véspera, ainda houve tempo para um reconhecimento rápido da cidade. Sobretudo a visita nocturna à mítica "The Cavern", uma porta estreita que se abre em direcção a uma escada íngreme. Degraus abaixo uma cave exígua e muito povoada, aquilo que os ingleses dizem ser o mais famoso clube musical do Mundo. Há fotografias dos Beatles espalhadas pelas quatro paredes, aliás, há referências dos Beatles espalhadas por toda a cidade como se os turistas desconhecem a história contemporânea. Talvez uma excepção: o restaurante português Algarve, um paraíso gastronómico na rede abissal do "fast-food" (comida rápida) inglês.
Naquele dia, Liverpool era uma cidade deserta. Mas os cafés e os restaurantes estavam apinhados de gente. Os olhos só descansavam quando as imagens televisivas eram absorvidas até ao último instante da curiosidade.
À noite, Anfiel Road, o mítico estádio do Liverpool, era um misto de emoções entre a euforia típica dos adeptos à consternação que varre o planeta. Quarenta mil almas fazem um minuto de silêncio por muitas outras almas, um minuto de silêncio supulcral, profundo e cortante. Começa o jogo, termina o jogo.
O Boavista empata 1-1, um resultado timidamente celebrado. Seguiu-se uma viagem de avião envolvida por um medo quase corrosivo. Liverpool, 11 de Setembro de 2001.