Hoje comemora-se o Dia Mundial do Dador de Sangue, assim como os 40 anos desde que Lisboa registou a mais alta temperatura de sempre: 43 graus. Estes dois factos parecem aleatórios, mas nos últimos dias a temperatura e os ânimos também têm vindo a subir.
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Uma das coisas mais comentada nas últimas horas é o uso de uma t-shirt com a cara de Che Guevara, símbolo da revolução cubana. Mas o que poucos mencionam é que em 1928, num 14 de junho, nascia o mítico guerrilheiro que era afinal argentino. No mesmo dia falecia em 1986 outro argentino mítico, o escritor Jorge Luís Borges. E ainda que poucos o saibam, estas duas famílias tinham um certo despique.
O pai de Che, Ernesto Guevara Lynch, era de família abastada e "foi expulso da Escola Nacional por ter esbofeteado Borges", depois de este avisar o professor que Guevara era chato: "Senhor, este menino não me deixa estudar".
Guevara Lynch ingressou no Acción Argentina, grupo antifascista, em solidariedade com os aliados na Segunda Guerra Mundial, do qual o seu filho também era militar. Borges quase não escreveu sobre aquela guerra, era considerado inimigo do comunismo -e também do nazismo -, além de militante antiperonista. Definia-se como conservador e contra os movimentos de massa: "Eu sou um conservador porque ser um na Argentina é a única maneira de ser cético na política. Eles, os conservadores, nunca irão mobilizar as massas ".
A revolução cubana também não despertou a simpatia de Borges. A escritora María Esther Vázquez, no livro "Esplendor e derrota", reúne outro episódio onde Borges e Guevara se cruzam. "A 9 de outubro de 1967, Che Guevara fora assassinado e o escritor lecionava Literatura Inglesa na Universidade de Buenos Aires. Um aluno interrompeu a aula e pede que ele suspenda a aula para homenagear Guevara, ao que Borges responde que isso pode esperar. O aluno insiste que deve ser naquele exato momento e o escritor reitera que não vai parar de ensinar enquanto desafia o aluno: "Venha-me tirar da carteira". O aluno recusa-se a usar a força, mas ameaça cortar a energia para forçar a suspensão da aula. Então Borges respondeu: "Tomei o cuidado de ser cego esperando por este momento"
"Os meus amigos não têm rosto,
as mulheres são o que foram há tantos anos,
as esquinas podem ser outras,
não há letras nas páginas dos livros.
Tudo isto deveria amedrontar-me,
mas é uma doçura e um regresso".
Excerto do poema de Jorge Luís Borges "Elogio da sombra", sobre a sua cegueira. A sua obra está quase toda publicada em português.
Che Guevara será das caras mais desenhadas da História, tendo-se convertido em ícone pop.
Hoje é também o dia ideal para conhecer a obra e a vida do francês René Char. Veja aqui o documentário deste poeta inicialmente ligado ao grupo surrealista de Paris e que publicou livros em coautoria com alguns destes, como "Ralentir travaux", com André Breton e Paul Éluard.
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Enquanto aguardamos o suspense dos próximos dias e os desenvolvimentos da cara de Che Guevara nada como ouvir Henry Mancini, compositor americano conhecido, por exemplo, pela autoria do tema para o genérico de "Pantera Cor-de-Rosa".
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E para terminar, uma frase de Salvatore Cuasimodo, poeta italiano falecido neste dia, em 1966 "Eu sou um homem só, um único inferno".