A crise no mercado livreiro agudizou-se tanto, que uma quebra de valor a rondar os 42% em relação a 2019, não sendo seguramente uma boa notícia, é pelo menos motivo para alguma esperança.
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Em março, a perda em relação às semanas homólogas de 2019 chegou aos 66%. E em abril, as livrarias tiveram valores negativos que atingiram uns impressionantes 84%. Mas o desconfinamento permitiu que as portas voltassem a abrir-se e os clientes ajudaram à retoma.
De 18 a 24 de maio, a queda foi já bastante menor: compraram-se menos 37,9% livros do que na mesma semana do ano passado (correspondentes a uma descida de 42,1% no volume de vendas).
Os números, revelados ao JN pela consultora GfK, que monitoriza este mercado, são os mais recentes sobre o negócio livreiro e não contabilizam ainda dois efeitos importantes: a abertura das livrarias dos shoppings (anteontem), que têm um peso significativo; e, mais especificamente, o regresso dos centros comerciais da Grande Lisboa, região que vale perto de metade no total do comércio de livros, segundo explicou ao JN João Alvim, presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL). Esse impulso que falta vai melhorar as finanças do setor, que, no entanto, continuará sob ameaça.
igual aos dias da troika
A recuperação, curta, mas em linha com o que tem vindo a acontecer semanalmente desde a reabertura, mostra "que as pessoas estão a regressar" às livrarias, avalia Alvim, embora salientando que a atividade "não vai sair disto como antes". Aliás, a perda total acumulada em 2020, em relação a 2019, é de 28,2,% no valor das vendas, e de 25,2%, no total de unidades vendidas. São dados que colocam a situação deste negócio ao nível da crise da troika. Nesses anos, a atividade caiu precisamente nessa medida, recorda o líder da APEL e, desde 2016, "só foram recuperados 5% do mercado".
A pandemia voltou a devastar um setor já muito fragilizado, cujos verdadeiros efeitos, reconhece Alvim, só serão reconhecidos depois. No curto prazo, acudiu-se ao "estrangulamento financeiro". "Agora que já temos uma perspetiva de retoma", o pessimismo é um pouco menor, mas é pessimismo apesar de tudo. "A recessão vai tirar rendimento disponível às famílias e o desemprego vai aumentar", prevê. Por isso, o "verdadeiro impacto" na atividade, leia-se falências, só será conhecido nos próximos meses. Assim que os apoios de emergência às empresas terminarem (empréstimos, o regime de lay-off ou a linha de 400 mil euros do Governo para as pequenas editoras e livrarias) ver-se-á quem conseguirá sobreviver.
Entretanto, para dar mais uma ajuda, vão regressar as Feiras do Livro de Lisboa e do Porto, cujas datas vão este ano coincidir. No Porto, vai acontecer entre 28 de agosto e 13 de setembro. Na capital, arranca a 27 de agosto.