"Bora lá laborar", nova produção do Teatro de Ferro foi apresentada na manhã desta sexta-feira, no Teatro Constantino Nery, em Matosinhos. Desta feita o público foi o escolar, que terá uma nova récita esta tarde. Este fim de semana o Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP) entra na sua reta final no Porto.
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"Esta obra para quem assiste aos trabalhos do Teatro de Ferro há 20 anos, como eu, é como um esboço de Picasso. Alguém pergunta quanto tempo demorou a fazer e ele respondia que tardou toda a vida. Estou siderado com esta peça, que aborda as quatro grandes revoluções da Humanidade", teceu Nuno, professor do Porto que assistiu à sessão. Também uma colega sua disse que esta fora a "maior lição sobre trabalho alguma vez vista".
No final da obra Igor Gandra, simultaneamente diretor do Teatro de Ferro e do Festival Internacional de Marionetas do Porto, justificou: "queríamos muito mostrar esta peça a pessoas da vossa faixa etária (adolescentes) porque é nestas idades que as decisões que se tomam e que não se tomam, também, vão moldar a nossa vida".
A abordagem tem desde conceitos filosóficos sobre o sentido da vida, passando por outros com um humor mordaz sobre o sentido capitalista de abordar o trabalho, até outros mais existencialistas sobre a necessidade de trabalhar. Pelo meio, muito bem cosidos, estão também episódios bíblicos, como a história de Caim e Abel; slogan políticos, "se o trabalho dá sáude que trabalhem os doentes" e muita música.
Há vários momentos de rap, em que se denunciam questões sérias como a misoginia no mercado de trabalho, a competitividade, e o facto de as máquinas terem sido criadas para que os humanos não tivessem de trabalhar. Mas entre essa ideia e a ideia de que nos roubam o trabalho, há um abismo de questões pelo meio. Um pouco como a paradoxalidade exposta: "os refugiados fazem o trabalho que ninguém quer fazer, mas estão aqui e roubam-nos o trabalho todo".
A dramaturgia trabalha com um valor de choque, como um guia de autoajuda. No fim, os artistas (sim, ser artista é um trabalho) mergulham no maravilhoso dispositivo cénico que criaram e ficámos felizes por não terem optado pela carreira de treinadores de golfinhos. O público adolescente, não tendo ainda memória para perceber todas as referências que ali são feitas, são muito entusiastas e não se coibem de bater palmas e gingar ao som das músicas.
Muito impressionadas com a apresentação, ficaram também as programadoras catalãs do Festival Z, em Girona que se realiza em julho de 2024 e quiseram programar de imediato a produção do Teatro de Ferro.
Mesa farta no fim de semana
Este fim de semana ainda há mais de uma dezena récitas de espetáculo para ver. Hoje apresenta-se no Teatro do Campo Alegre "O público e a multidão" de Joclécio Azevedo, que terá uma nova récita no sábado, às 17 horas. Além de grandes pérolas da programação como ‘El Mar - visión de unos niños que no lo han visto nunca’, ‘Hermit’, ‘Teatro Dom Roberto’, ‘Polaroid’,’Tondeuse’, ‘The Watching Machine’ e ‘Bonecos de Santo Aleixo – Auto da Criação do Mundo’.
Estes são os últimos espetáculos no Porto, porque a 5 de novembro há “Negative Space”, dos britânicos Reckless Sleepers, para ver no Teatro Aveirense, em Aveiro, no que será o verdadeiro momento final do fimp’23.
O catalão Xavier Bobés é um artista repetente no FIMP, se o ano passado presenteou o público com o poético "Corpus", pontuado pela música de Frances Bartllet, dentes de leão e os maravilhosos sonetos de amor de Shakespeare, este ano traz a memória histórica franquista: "El Mar - visión de unos niños que no lo han visto nunca". Aqui conta a história de um professor que, em plena ditadura, quis proporcionar aos seus alunos de uma aldeia do interior uma viagem até à orla marítima da Catalunha, para que estes pela primeira vez vissem o mar e que acaba por ser vítima de assassinato antes de cumprir a promessa que havia feito.
Uma peça que pode ser vista sábado, às 19 horas e domingo, às 16 horas, no Teatro Carlos Alberto.
À noite é a vez de “Polaroid”, pela companhia francesa Mecanika” (+ Tondeuse –Duo de música/ também dia 14, sábado, às 23 horas no sub-palco do Rivoli) é uma proposta encabeçada por Paulo Duarte, artista português radicado em França há cerca de 30 anos. A peça pode ser vista no sábado e domingo, no Rivoli – Teatro Municipal do Porto, às 21.30 horas no sábado, e às 15 horas no domingo.
Também este sábado o certame apresenta mais um espetáculo para o público infanto-juvenil “Hermit”, da companhia neerlandesa Simone de Jong, uma performance sobre uma casa pequenina, em que o dono não está, mas é audível.Um espetáculo sobre estar sozinho e voltar para casa. Para ser visto, às 16 horas no Teatro Campo Alegre.
De Espanha, para além da proposta de Xavier Bobés, é possível ver “The Watching Machine”, no Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, domingo, às 16 horas.
A identidade e a tradição, sobem à cena no sábado, com “Teatro Dom Roberto”, desta feita pela Red Cloud Teatro de Marionetas, às 16 horas, no Jardim da Cordoaria. Outra das tradições serão os Bonecos de Santo Aleixo- património teatral português, pelo Cendrev – Centro Dramático de Évora, com guitarra portuguesa e as canções são interpretadas ao vivo. Os textos transmitidos oralmente são uma fusão entre o sagrado e o profano, na fronteira entre a cultura popular ea cultura erudita. O espetáculo que encerra o fimp’23 no Porto, pode ser visto no Teatro Helena Sá e Costa, no domingo, dia 15 de outubro, às 21 horas.