O Festival Dias da Dança (DDD) inaugura em 2022 a secção Guests, convidando quatro jovens intérpretes para um programa que lhes permite usufruírem das valências do evento. Como explicou Tiago Guedes, diretor artístico do certame, "os DDD Guests têm em comum o facto de serem bailarinos e coreógrafos sub-30, artistas que estamos a seguir sem os programar: uma artista do Porto, um de Cabo Verde, uma do Brasil e uma brasileira residente em Lisboa. São todos apaixonados pela dança e de quem queremos saber mais".
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Este convite não implica um compromisso de programação numa próxima edição, funcionando sobretudo como um chamamento a que inevitavelmente se conheça mais o seu trabalho. "Todos têm discursos autorais muito vincados, algo que me interessa particularmente", conta Tiago Guedes. "Durante dois domingos terão portas abertas para previews dos seus trabalhos. Eles decidem o formato que querem apresentar. Esperamos que não haja uma tentação de mostrarem um pré-espetáculo. Poderá até ser uma conversa." No DDD 2022 já está confirmada a presença de 50 programadores, nacionais e internacionais, que os poderão ver.
Os selecionados têm desde logo contextos de produção muito diferentes. Iara Izidoro, no Brasil, "está habituada a trabalhar de uma forma muito precária; trabalha sozinha, sempre nas brechas da possibilidade. Gaya de Medeiros é uma transexual baseada em Lisboa, que funciona de um modo menos precário porque já tem parcerias e está enquadrada na rede de dança portuguesa e europeia. O Djam Neguin é um artista de Cabo Verde que desenvolve o seu trabalho em várias áreas. A Ana Isabel Castro está numa fase de reset do seu lugar de fala", contextualiza o diretor artístico do DDD.
Iara Izidoro
Performer, diretora e artista visual brasileira que trabalha no CARNI (Coletivo de Arte Negra e Indígena), através do qual faz parte do corpo de curadoras da plataforma Palco Preto. Fez parte do elenco do Grupo Experimental (PE) e da Cia. Municipal de Dança de Caxias do Sul e é licenciada em dança pela Universidade Federal de Pernambuco. Izidoro exibiu a vídeo performance "Todo preto sabe sambar" no 10º Encuentro de Acciones en Vivo y Diferido (Bogotá, Colômbia, e Salvador, Brasil) e na VIII Mostra de Performance: Arte Negra, Imagem e Anonimato (na Universidade Federal da Bahia). Participou também na exposição coletiva "A má educação: Uma obra aberta". Atualmente dirige a performance "Por onde andam os porcos", apresentado em Recife, na Mostra Internacional de Teatro de São Paulo e no Festival Danza Fuera, em La Plata, Argentina. A artista foi selecionada como Guest depois do seu trabalho para o Panorama RAFT. A iniciativa partiu do festival brasileiro Panorama que escolheu dez parceiros europeus e fez uma "open call" por todo o Brasil de obras fílmicas para o online. O DDD vai mostrar três dos dez filmes desta jangada de artistas brasileiros.
Gaya de Medeiros
Bailarina, drag queen, coreógrafa e produtora transexual brasileira que vive em Lisboa. Formada em cinema de animação, balé clássico e dança contemporânea, Gaya de Medeiros trabalhou como bailarina da Companhia de Dança do Palácio das Artes, no Brasil, durante nove anos. Em 2021 dirigiu "Atlas da boca" e fundou a BRABA, plataforma que visa apoiar, viabilizar e financiar iniciativas voltadas para a comunidade trans/não binária. Tiago Guedes viu o seu "trabalho muito autobiográfico sobre a transição de género" em "Atlas da boca" no Alkantara Festival. "Um trabalho excecional sobre duas transições de género, muito tocante. A maioria dos trabalhos tem um pendor de denúncia mas Gaya escolheu o lugar dos afetos, a alegria e o grande amor que tem pelo seu novo corpo". Decidiu, assim, convidá-la para ser uma das Guests. Gaya criou três importantes solos: "É o amor outra vez", "Proteína desnaturada" e "After party" . Já trabalhou com criadores baseados em Portugal, entre eles Gustavo Ciríaco e Tiago Cadete.
Ana Isabel Castro
Para o público fiel do DDD é a mais conhecida dos Guests, depois de ter apresentado duas das suas produções, "Iceberg" e "Marengo", em diferentes edições do festival, muito aplaudidas pela crítica e pelo público. A sua linha de trabalho, sempre sobre um universo onírico, levou Tiago Guedes a convidá-la a ser um dos Jovens Artistas Associados (JAA!) do Teatro Municipal do Porto para as temporadas 2019/2020 e 2020/2021. Ana Isabel Castro é licenciada pela Escola Superior de Dança e frequentou o FAICC - Formação Avançada em Interpretação e Criação Coreográfica da Companhia Instável. Como bolseira Erasmus no MUK, em Viena, trabalhou com Esther Balfe, Saju Hari e Georg Blaschke. Colaborou como intérprete com a Compagnie 7273, Circolando, Companhia Instável, Kale Companhia de Dança e Joclécio Azevedo. A coreógrafa tem agora uma nova oportunidade para fazer uma imersão no DDD, desta feita sem a pressão de apresentar uma produção acabada.
Djam Neguin
É um artista multidisciplinar cabo-verdiano que se apresenta em dose dupla no DDD, como Guest e como intérprete de "Pantera", espetáculo de Clara Andermatt e João Lucas que inaugura o festival. Abordando diferentes disciplinas - música, teatro e dança - o artista assume a especificidade de ser cabo-verdiano e cidadão do mundo, trabalhando muito sobre as suas raízes. Djam Neguin foi selecionado como Guest no Mindelact, festival internacional de teatro de Mindelo, onde João Branco faz um importante trabalho de divulgação de artistas africanos. É também o responsável pela criação, no ano passado, da Rede de Dança CPLP. Entre os vários espetáculos que criou, "Mornatomia" foi selecionado em 2019/2020 para uma bolsa de participação em residências artísticas internacionais nas áreas da música e artes cénicas, atividade implementada pela Fundação Calouste Gulbenkian e inserida no apoio à mobilidade internacional de artistas dos PALOP e Timor-Leste.