A cerimónia de entrega dos Oscars, que têm este domingo a sua 94.ª edição, é um dos maiores filmes de suspense que Hollywood tem sido capaz de produzir. Ao longo de várias semanas, desde o momento das nomeações, até hoje ao fim da tarde, em Los Angeles, não se fala de outra coisa, no mundo do cinema. Quem vai ganhar os prémios da Academia das Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que passaram a ser conhecidos como Oscars desde que uma secretária da instituição viu a estatueta e lhe fez lembrar o seu tio Óscar?
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Depois vem o ritual dos envelopes, guardados com zelo até ao fim por uma empresa de segurança e abertos ao vivo e perante milhões de pessoas em todo o mundo. Mas, se esse suspense sobre o nome que vem escrito lá dentro, qual filme de Agatha Christie, não fosse suficiente, a Academia ainda se "lembrou" de trocar os envelopes e fazer com que o pobre Warren Beatty anunciasse o nome errado para o Óscar mais desejado da noite e último a ser anunciado, o de Melhor Filme do Ano.
Sejamos claros: por mais mudanças que haja na estrutura industrial do cinema, nomeadamente o norte-americano, um Óscar ainda vale milhões e há muitos departamentos de marketing a estabelecer desde já estratégias em função dos vencedores da noite. Afinal, todos ganham. Quem não vai querer ver os filmes que hoje vão sair consagrados de Hollywood para o mundo?
Apesar da pandemia ainda andar por aí, o mundo tem regressado aos poucos a uma normalidade possível. Depois da cerimónia do ano passado ter sido tão estranha, pouco aliciante e finalmente tão mal organizada que os níveis de audiência global desceram a níveis impensáveis, os Oscars regressam hoje ao Dolby Theater de Hollywood. E, para lá chegar, os convidados vão ter de passar pela habitual passadeira vermelha, que constitui todo um espetáculo à parte, sobretudo enquanto desfile de moda.
Assustada com a perda de interesse pela cerimónia, que já se vinha a notar aliás desde há alguns anos, a Academia decidiu encurtá-la, para ganhar mais dinamismo. Em 2019 já tinha sido anunciado que quatro das 23 categorias não seriam recebidas ao vivo, o que lançou alguma controvérsia, sobretudo entre os respetivos nomeados.
Nessa altura, a Academia recuou, mas agora não esteve com meias medidas: são nada menos que oito as categorias cujos prémios vão ser entregues uma hora antes, com o discurso dos vencedores a ser editado e emitido ao longo da emissão. São estas as categorias: documentário curto, montagem, maquilhagem e cabelos, música original, direção artística, curta de animação, curta-metragem e som.
Ao vivo vamos pois poder ver a abertura do envelope do Óscar de Melhor Guarda-Roupa, sendo pois possível, mas não muito provável, que se ouça: e o Óscar vai para Luís Sequeira. O luso-canadiano está nomeado pelo seu trabalho em "Nightmare Alley - O Beco das Almas Perdidas", de Guillermo del Toro, realizador que já lhe valera uma nomeação por "A Forma da Água".
E se o Óscar de Melhor Banda Sonora fica de fora, o mesmo não acontece como de Melhor Canção, que providencia aliás normalmente alguns dos melhores momentos do espetáculo. É o que deverá acontecer esta noite, quando Beyoncé subir ao palco para interpretar o tema "Be Alive", do filme "King Richard". Billie Eilish e o irmão, Finneas I"Connell, interpretarão "No Time to Die", do filme homónimo de James Bond, Sebastian Yatra cantará "Dos Oruguitas", da animação "Encanto" e Reba McEntire dará uma versão de "Somehow You Do", do filme "Four Good Days". Infelizmente, Van Morrison está em digressão e não o ouviremos interpretar a outra canção nomeada, "Down to Joy", de "Belfast".
Mas então, e o Óscar de Melhor Filme? Encabeçando os mais nomeados, "O Poder do Cão", de Jane Campion, tem a possibilidade de levar doze estatuetas para casa e é considerado o grande favorito, tendo colecionado consagrações na chamada "temporada de prémios" que antecede os Oscars.
O western da neozelandesa é um filme da Netflix, o que seria uma pequena revolução, caso a participação das grandes companhias de streaming não fosse já uma realidade no mundo do entretenimento. Aliás, "O Poder do Cão" não é o único nomeado para o principal Óscar a ser distribuído online. "CODA - No Ritmo do Coração" é da Apple TV+ e "Don"t Look Up" também é da Netflix.
A cerimónia terá de novo apresentadores e pela primeira vez serão três mulheres: Regina Hall, Amy Schumer e Wanda Sykes. A experiência sobretudo das duas últimas na stand-up comedy faz antever bons momentos de humor, embora tudo o que o mundo tem vivido ultimamente não seja para grandes brincadeiras.
Hollywood vai assim celebrar o seu cinema e esteve atenta aos perigos que o cinema vem passando, com o receio das pessoas voltarem às salas ainda não completamente ultrapassado. Um bom sinal dessa atenção é a escolha de dez filmes para o Melhor do Ano, a primeira vez que tal acontece desde que as nomeações para o principal Óscar passaram das habituais cinco a possíveis dez. Vá-se lá saber porquê, a Academia ficava-se sempre por nove!
E aqui ficam os dez nomeados, porque de alguns deles é possível que seja a última vez que vão falar deles: "Belfast", "CODA - No Ritmo do Coração", "Don"t Look Up", "Drive My Car", "Dune - Duna", "King Richard", "Licorice Pizza", "Nightmare Alley - Beco das Almas Perdidas", "O Poder do Cão", "West Side Story".
Os dados estão lançados, quer dizer, os votos estão feitos e contados. O que irá acontecer esta noite? "O Poder do Cão" confirma as expectativas? Terá Steven Spielberg conquistado a Academia com o novo "West Side Story"? Irá o japonês Ryusuke Hamaguchi repetir a surpresa do coreano Bong Joon-ho, fazendo suceder "Drive My Car" a "Parasitas"? Ou haverá ainda uma surpresa maior com o filme sobre a única jovem que fala e ouve de uma família de surdos-mudos (CODA)?
Javier Bardem (Being the Ricardos) e Penélope Cruz (Mães Paralelas) compõem um belo casal de nomeados, mas devem ficar na plateia a ver Benedict Cumberbatch (O Poder do Cão) e Olivia Colman (A Filha Perdida) levarem os Oscars para casa. "Encanto" deve oferecer mais uma estatueta ao museu da Disney, enquanto "Drive My Car" terá pelo menos assegurado o Oscar de Melhor Filme Internacional. Jane Campion, pelo menos, terá assegurado o Óscar de Melhor Realização. Ou então vai ser tudo ao contrário. É também essa a beleza dos Oscars e é por isso que meio mundo, seja em que fuso horário estiver, não vai perder a cerimónia desta noite.
Os favoritos
Melhor Filme: O Poder do Cão
Melhor Realização: Jane Campion (O Poder do Cão)
Melhor Ator: Benedict Cumberbatch (O Poder do Cão)
Melhor Atriz: Olivia Colman (A Filha Perdida)
Melhor Ator Secundário: Kodi Smit-McPhee (O Poder do Cão)
Melhor Atriz Secundária: Judi Dench (Belfast)
Melhor Argumento Original: Paul Thomas Anderson (Licorice Pizza)
Melhor Argumento Adaptado: Sian Heder (CODA - No Ritmo do Coração)
Melhor Animação: "Encanto"
Melhor Filme Internacional: Drive My Car