Os conceitos "genderbend" e "crossplay" estão presentes no vocabulário de Cosplay, mas nem todos sabem o seu significado. A Comic Con dá a oportunidade aos fãs de conhecerem um pouco mais deste mundo, conversando com conhecedores dos dois termos.
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"O mundo do Cosplay" da Comic Con aborda vários temas deste universo em palestras e workshops. Um deles é o "genderbend" e foi tratado pelo cosplayer Hylian Prince, num workshop programado para o terceiro dia do evento, que decorre desde dia 8 no Parque das Nações, em Lisboa.
"Genderbend", no cosplay, tem como objetivo adaptar a personagem do sexo oposto ao género do cosplayer. Hylian explica melhor este conceito ao JN, dando o seu exemplo: "No meu caso, estou a pegar numa personagem feminina, a Elsa, e adaptá-la ao meu género. Fazer uma versão masculina da Elsa".
Apesar de determinadas características serem transformadas no estilo do cosplayer, a personagem "tem que continuar a ser reconhecível", acrescenta Hylian Prince.
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O cosplayer entrou neste mundo em 2016 e desde aí que se dedica ao "genderbend". Sempre gostou de personagens femininas, acha-as mais interessantes e "há tanto mais por onde pegar", confessa.
Contudo, não se sentia confortável em fazer aquela personagem feminina e por isso mesmo decidiu que queria transformar e fazer uma versão masculina e de ele próprio: "Eu sinto que sou eu, o Afonso, a fazer aquela personagem à minha própria maneira, enquanto presto homenagem às personagens que adoro", salienta.
Enquanto formador do workshop da Comic Con, abordando as práticas e técnicas do "genderbend", Hylian destaca as principais questões que lhe colocam sobre este tema: "Por onde começo?", "onde é que me inspiro?", "como é que faria esta personagem?". O cosplayer refere, com orgulho, que está a ver as pessoas a querer, cada vez mais, "experimentar coisas novas". E o objetivo é mesmo esse: "serem criativas dentro de um meio que é tão versátil".
Hylian, tal como referiu, identifica-se como um rapaz, independentemente da personagem que está a encarnar e por isso não acha que exista relação com questões de identidade de género e orientação sexual. Contudo, admite que determinadas pessoas poderão "estranhar e não compreender", havendo algum juízo de valor.
O cosplayer não acredita que possam surgir inseguranças por quem pretender direcionar o seu cosplay para o "genderbend", mas no "crossplay" a situação já é diferente: "aí imagino que possa haver algumas inseguranças quando as pessoas fazem estas transformações - é levantada a questão de que se eu sou um rapaz, porque estou a fazer uma personagem feminina?".
O que é "crossplay"?
O conceito, tal como o "genderbend", está relacionado com o género e neste caso em vez de a personagem feminina ou masculina ser adaptada ao género do cosplayer, o mesmo encarna uma personagem do sexo oposto, tal como ela é.
A jovem Inês Barata é uma das cosplayers que visitou a Comic Con, encarnando uma personagem masculina. Inês admite que sempre o fez, porque gosta. "Aão as minhas personagens favoritas", explica, não vendo, por isso, qualquer impedimento e problema.
A cosplayer considera que o "crossplay" está a chamar mais pessoas, uma vez que estas "começam a ter menos medo de fazer cosplay de uma personagem que gostam só por ser de um sexo diferente".
Tendo encarnado já várias personagens masculinas, Inês nunca presenciou "um olhar de reprovação", considerando que já existe mais abertura quanto a este tema. Contudo, reconhece que haverá pessoas que acham que por encarnar uma personagem masculina, poderá querer ser um rapaz, "mas não é o caso", assegura.
"Continua a ser cosplay na mesma. Não existe o 'eu vou encarnar uma personagem masculina', eu vou simplesmente fazer cosplay da personagem que eu gosto", defende Inês Barata.