Quase 80% dos vimaranenses afirmam-se satisfeitos com as dinâmicas culturais no concelho. O Castelo é o principal símbolo, mas o Centro Cultural Vila Flor é mais apreciado.
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Uma oferta cultural muito centralizada no Centro Cultural Vila Flor (CCVF) e dificuldades de acesso para os públicos residentes nas freguesias mais periféricas do concelho, são conclusões do Diagnóstico do Plano Estratégico Municipal de Cultura Guimarães 2032. O documento, elaborado pelo Observatório de Políticas de Ciência, Comunicação e Cultura (PolObs), do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, que foi apresentado ao final da tarde deste sábado, no CCVF, começou a ser elaborado em 2022, no décimo aniversário da Capital Europeia da Cultura (CEC 2012), e pretende lançar as bases para o que será a política cultural na próxima década. A partir de março deve estar disponível para discussão pública a “versão zero” do plano para a cultura até 2032.
Os investigadores do PolObs interagiram - através de entrevistas, grupos de discussão, Conferência Municipal de Cultura, entre outros meios - com 700 pessoas, para fazer o diagnóstico do setor cultural no concelho. Relativamente à década que passou, desde a CEC 2012, concluíram que houve um reforço do investimento em formação e infraestruturas e que as políticas culturais foram consistentes e sustentadas. São apresentados como positivos o programa de financiamento IMPACTA e o “Excentricidades”, através do qual se procura fazer chegar a cultura ao território mais periférico. A Orquestra de Guimarães, o Guimarães Jazz e o Guidance também aparecem entre as boas práticas dos últimos dez anos. Como aspetos negativos, são referenciados os problemas de comunicação e a excessiva centralização da programação no CCVF, em conjunto com a falta de oferta de transporte público.
A CEC é reconhecida como um ponto de viragem que criou “a base de um sistema cultural colaborativo”. Contudo, o investigador do PolObs, Manuel Gama, é perentório ao afirmar que, no pós-CEC, “as expectativas do tecido cultural não se concretizaram”. Isto não impede que 46% dos inquiridos se tenham revelado satisfeitos e 31,1%, muitos satisfeitos, com a dinâmica cultural no concelho.O Castelo de Guimarães é reconhecido como o principal símbolo, e o Centro Histórico referido como motivo de orgulho, mas o CCVF é a infraestrutura que recolhe mais apreço.
Associações fora do digital
A radiografia ao panorama cultural de Guimarães verificou que a centralização não se fica pela oferta institucional, uma vez que também se verifica ao nível do movimento associativo. No que toca às associações, Manuel Gama aponta com estranheza o facto de o Portal Municipal ser pouco usado para divulgar eventos, “embora haja queixas relativamente às dificuldades de comunicação”. Este parece ser um campo onde há muito a fazer, uma vez que, 56,3% das coletividades não têm página de internet, 21,3% não têm redes sociais e 18,6% não têm qualquer presença digital.
O estudo apontou ainda a necessidade de trabalhar o Cartão Quadrilátero, uma vez que não parece estar a cumprir a sua função de atrair público para oferta cultural em Guimarães e para levar as pessoas a frequentarem os espaços dos outros três concelhos (Braga, Famalicão e Barcelos). Um grande número de entrevistados revelou nunca ter ido ao Theatro Circo, em Braga ou à Casa das Artes, em Famalicão.
O diagnóstico vai servir como base para a “versão zero” do Plano Estratégico Municipal de Cultura Guimarães 2032, que será colocado online, de acordo com o vereador da Cultura, Paulo Lopes Silva, no início de março. O documento ficará em discussão pública “durante pelo menos um mês”, aponta este responsável. Nesse período, os munícipes poderão contribuir com propostas de alteração, através de um formulário ou participando em sessões públicas.