João Serra, que assumiu a Presidência da Fundação Cidade de Guimarães (FCG), encarregue da programação da CEC 2012, após a saída litigiosa de Cristina Azevedo, afirma que o objectivo do evento é lançar as sementes para um futuro alternativo à indústria tradicional que tem alimentado o municício, e que isso já se nota no plano turístico.
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O antigo ex-chefe da Casa Civil do ex-presidente da República, Jorge Sampaio. E advoga a extinção da FCG em 2013, por deixar de fazer sentido.
Qual é o objectivo primário da CEC?
Há três. Primeiro, o reforço de um centro de produção artística e cultural regional, num contexto que lhe dá dimensão internacional, na área do cinema, do teatro, das artes plásticas e da música. Depois, uma engenharia de projecto: houve cidades a apostar no equipamento - Bilbao, por exemplo - mas hoje, sobretudo aqui, é tão importante ter equipamentos como garanti-los com um serviço educativo, ligação à rede associativa local, e ao tecido económico e social. Depois, a experimentação: não há criação sustentada sem experimentação. Ora, vamos ter laboratórios de criação, artistas a fazer residência, a experimentar cá o que sabem, e isso é o que fica. No final da CEC, a Uminho terá aqui um instituto de design, uma escola de artes (performativas e música), equipamentos do Ensino Superior que ganharam densidade graças à CEC.
Que efeitos terá no tecido sócio-económico de um concelho, uma região cujas práticas se enraízam em 150 anos de mono-indústria?
Os industriais de Guimarães sabem as áreas de negócio em que têm de apostar, e percebem que a cultura é importante, não só para projecção e notoriedade da região, mas também como vivificadora da modernização. E já estamos a ter ganhos notórios no turismo cultural - que gera novas oportunidades para o comércio - a partir sobretudo da descoberta do New York Times. Houve uma corrida que passou do mundo mediático para a procura turística - uma revista fez o ranking dos melhores destinos e Guimarães está em primeiro. O rating de Guimarães, hoje, tem três AAA.
Isso mudou o perfil do turista, que era sobretudo português?
Claramente. O turismo que uma CEC pode almejar é o performativo - o turista participante, que diz "eu também sou vimaranense", que não vai à cidade só para tirar uma foto, mas que quer imergir no que lá existe. O que estamos a preparar aqui é um sistema de acolhimento deste turista: estão a surgir em Guimarães pequenos hotéis de charme e guest houses, um turismo de residência a preços convidativos, porque este turista não aposta na noite - fica três dias, uma semana, e traz a família. Este é o efeito de fertilização da CEC.
Que consequências tiraram do exemplo do Porto 2001?
A forma como o Porto conduziu, sob a mesma entidade, uma regeneração urbana e um projecto cultural foi avaliada como negativa; em Guimarães separou-se as duas: o projecto de regeneração é conduzido pela Câmara, com orçamento próprio, e a programação é conduzida pela FCG. Foi arriscado, porque o princípio da separação não é bom em si, e o Porto 2001 foi algo de conjuntural. As coisas só correram bem em Guimarães porque, entre os objectivos da Câmara e os da FCG, se conseguiu um extraordinário nível de compromisso.
Isso parece ter sido conseguido só após a ruptura com Cristina Azevedo. A saída dela teve um impacto negativo grande?
Sim, claro. As mudanças implicam sempre um período de paralisação, porque se está a avaliar o impacto da emergência.
Faz sentido que a FCG continue até 2015?
Não. É difícil, em função dos tempos actuais, justificar a ideia de uma Fundação criada por tempo indeterminado que tem logo um Conselho de Administração (CA) mandatado até 2015. Ou seja, em 2012 acaba a CEC; em 2013, fecham as contas. Ficam cá em 2014 e 2015 a fazer o quê? E o ciclo político não muda (com as autárquicas de 2013)? Muda. Levantei essa questão em Setembro, propondo aos membros do CA, e a todos os que fizeram contratos com a FCG, que o mandato do CA terminasse em 2013. Sem lugar a indemnização. E, depois, se uma Fundação é criada para realizar um programa imaterial e não gere equipamentos, qual é a razão para continuar depois do programa cumprido? Só se houver acordo entre os detentores de equipamentos de que a FCG é que devia geri-los, mas a Câmara apostou, e bem, no fortalecimento da estrutura que já tinha - a Oficina.