"Anatomie d"une Chute" foi o grande vencedor do Festival de Cannes. Na hora de receber o prémio, a cineasta Justine Triet lembrou as lutas sociais em França.
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É a terceira realizadora e a segunda francesa a vencer a Palma de Ouro, em 76 edições. Com sete mulheres atrás das câmaras nos 21 filmes em competição, não foi com grande surpresa que o filme de Justine Triet, "Anatomie d"Une Chute" vence o prémio principal de Cannes 2023.
É esta a história do filme de Triet: Sandra, Samuel e o seu filho Daniel, de 11 anos e deficiente visual, vivem longe de tudo nas montanhas há um ano. Um dia, Samuel é encontrado morto ao pé da sua casa. É aberta uma investigação sobre a morte suspeita. Sandra é rapidamente acusada, embora haja dúvidas quanto ao facto de se tratar de suicídio ou homicídio. Um ano depois, Daniel assiste ao julgamento da mãe...
Ao receber o prémio, para além das habituais palavras de agradecimento, Justine Triet não esqueceu as lutas sociais que varrem a França nestes últimos tempos, contra a reforma das pensões e que têm disso reprimidas pelo governo neoliberal de Macron, que se apresta também a colocar em perigo a exceção cultural de que o cinema francês necessita para sobreviver.
Foi um bom ano, Cannes 2023. Os cineastas consagrados não desiludiram, e novos talentos emergiram. Jane Fonda e Quentin Tarantino, Michael Douglas e Harrison Ford, Martin Scorsese e Robert De Niro, entre muitos outros, passaram pela passadeira vermelha de Cannes.
Ainda não foi desta que o cinema português chegou à competição, mas João Salaviza representou-nos bem com o prémio de Un Certain Regard para "A Flor do Buriti". No palmarés oficial há uma certa desilusão por Aki Kaurismaki não vencer uma vez mais a Palma de Ouro, repetindo o Grande Prémio. O que será mais necessário o finlandês fazer para conquistar Cannes.
"Zone of Interest", ou o outro lado do nazismo, em formato experimental, valeu a Jonathan Glazer o Grande Prémio do Júri. A turca Merve Dizdar e o japonês Koji Yakusho venceram os prémios de interpretação, pelos filmes de Nuri Bilge Ceilan e Wim Wenders.
O vietnamita, há muito radicado em França, Tran Anh Hung, foi considerado melhor realizador e o melhor argumento foi para o japonês Yuji Sakamoto, pelo último filme de Kore-eda Hirokazu. A Camera d"Or, premiando o melhor primeiro filme visto em todas as selões, foi para o jovem vietnamita Thien An Pham, pelo prometedor "Inside the Yellow Cocoon Shell", de Thien An Pham. Cannes termina celebrando o cinema, "nas salas", como reafirmou Jane Fonda, na cerimónia de encerramento. E alguém disse também que os filmes do futuro já estão a ser feitos hoje mesmo. Até Cannes 2024.
Prémios
Palma de Ouro; "Anatomie d"une Chute", de Justine Triet
Grande Prémio do Júri: "Zone of Interest", de Jonathan Glazer
Prémio do Júri: "Fallen Angels", de Aki Kaurismaki
Melhor Realização: Tran Anh Hung, por "La Passion de Dodin Bouffant"
Melhor Argumento: Yuji Sakamoto, por "Monster", de Kore-eda Hirokazu
Melhor Ator: Koji Yakusho, em "Perfect Days", de Wim Wenders
Melhor Atriz: Merve Dizdar, em "Les Herbes Sêches", de Nuri Bilge Ceylan
Camera d"Or: "Inside the Yellow Cocoon Shell", de Thien An Pham
Curta-metragem: "27", de Flora Ana Buda