Três importantes bandas rock, de três gerações diferentes, lançam os seus novos discos num espaço de três meses. Pearl Jam, The Strokes e Tame Impala poderão ser bons estímulos nesta fase difícil - energia, rebelião, vontade de ir para a varanda saracotear os ossos.
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Os herdeiros dos Mother Love Bone, banda seminal do movimento grunge de Seattle, preparavam uma série de eventos especiais, que incluíam realidade aumentada e projeções em 200 cinemas, para assinalar o seu regresso aos discos, sete anos depois do último "Lightning bolt". Tudo arruinado pelo coronavírus. Seattle é apenas mais uma das cidades "atingidas duramente, onde é possível testemunhar a velocidade com que esta situação desastrosa se espalha", escreveu o vocalista Eddie Vedder numa mensagem aos fãs, em que não poupa críticas à falta de "mensagens claras" por parte da administração americana relativamente à segurança da população.
"Gigaton", 11.º registo dos Pearl Jam, lançado ontem, usa o nome de uma medida científica que determina o derretimento das calotas polares e ostenta na capa a imagem de paredes geladas na Noruega. É um álbum que resulta de tempos "emocionalmente negros e confusos", disse o guitarrista Mike McCready, mas é também "um mapa de viagem excitante e experimental que conduz à redenção pela música."
O experimentalismo está bem patente no primeiro single avançado, "Dance of the Clairvoyants", que parece saído de "Remain in light", dos Talking Heads. Mas a faceta mais robusta da banda, com o seu rock catártico e anguloso, vai-se revelando nas faixas seguintes.
Casablancas voltou
Já os Strokes, que emergiram dez anos após o primeiro álbum dos Pearl Jam, e rapidamente conquistaram as tabelas com o seu classicismo atualizado, devolvendo o som dos The Velvet Underground ou dos Television em embrulho de novo milénio, regressam também sete anos depois do seu último disco de originais, "Comedown machine". "Estava na altura de derretermos", disse o vocalista Julian Casablancas a propósito de "The new abnormal", cujo alinhamento foi anunciado durante um comício de apoio ao candidato democrata Bernie Saunders.
Também aí se ficou a conhecer o primeiro single do disco, "Bad decisions", que lança o tom de um trabalho mais próximo dos rangeres melódicos de "Room on fire" (2003) do que da energia descarnada e explosiva do álbum de estreia, "Is this it" (2001). Sai a 10 de abril.
A seguinte geração do rock terá um bom representante nos Tame Impala, que debutaram em 2010 com "Innerspeaker". O seu rumo psicadélico inoculou vitalidade a um género que se movia já num tempo pouco favorável, em que o hip hop ganhava cada vez mais adesão entre os novos públicos. Mas com "The slow rush", que saiu a 14 de fevereiro, a banda expande-se ainda mais, absorvendo elementos de disco, house e pop sintético. É agora uma paisagem, mais do que um conjunto de canções.