Promotores esperam atrair mais público com a suspensão anunciada de vários eventos de grande porte. Pré-vendas são positivas, impulsionadas pela procura crescente nos mercados internacionais.
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É já no próximo fim de semana que se inicia a temporada de festivais de música ao ar livre e, à semelhança do que acontece com o seu congénere futebolístico, prognósticos só mesmo no fim.
A anunciada suspensão de três festivais de grande dimensão (Sudoeste, Super Bock Super Rock e North Festival) foi o primeiro sinal da transformação por que passa um segmento que, com exceção dos anos da covid (2020 e 2021, sobretudo) conheceu um crescimento invejável nas últimas duas décadas. De acordo com os dados da associação setorial APORFEST, 2024 foi mesmo o ano com maior número de festivais. Nesse período realizaram-se 348 festivais em território nacional, um aumento de 10% face ao anterior.
Apesar do sentimento generalizado entre os promotores, Diogo Marques, da organização do Meo Kalorama, é dos poucos a verbalizar publicamente a satisfação pelo sucedido. “Com a redução dos festivais, todo o setor fica a ganhar. Se a oferta diminui e a procura se mantém, é óbvio que os festivais que resistem vão beneficiar”, afirma.
Os primeiros indicadores parecem confirmar esse cenário. Em festivais como o Meo Marés Vivas e o Nos Alive já há dias esgotados (no festival gaiense, é a 20 de julho, quando atuam Pedro Sampaio e os Calema, enquanto no Passeio Marítimo de Algés já não restam bilhetes para ver Olivia Rodrigo, a 13 de julho) e os passes gerais para lá caminham. Também o Primavera Sound Porto, o Vodafone Paredes de Coura e o Kalorama registam um elevado ritmo de venda de bilhetes que não exclui a possibilidade de haver lotações esgotadas.
“A procura tem sido equilibrada, ao contrário de edições anteriores, em que havia picos num determinado dia“, diz José Barreiro, da Picnic, o consórcio luso-espanhol que organiza o Primavera.
Mais ingleses
Os dados apontam também para um aumento de visitantes estrangeiros, com particular destaque para o mercado inglês, que ultrapassou o espanhol em festivais como o Kalorama e Primavera. Em ambos, a quota internacional ronda de momento os 30%, embora os promotores admitam que possa vir a baixar, uma vez que os nacionais tendem a comprar ingressos nos últimos dias, propensão acentuada pela pandemia.
Outra das tendências é o reforço do turismo interno, ou seja, espectadores oriundos de outra região do país que aproveitam um festival para umas miniférias. O diretor do Primavera Sound adianta mesmo que o número de bilhetes vendidos pelo festival em Lisboa é semelhante ao do Porto, um indicador que o satisfaz de forma particular, porquanto “os lisboetas não têm por hábito sair da capital para assistir a concertos”.
Num ano atípico como este, os promotores estão a procurar um reposicionamento dos respetivos eventos. São, por isso, muitos os ajustes previstos. É o caso do Rocketmen, nova designação do Luna Fest, que tenta um novo fôlego depois de duas edições em que a resposta do público ficou aquém do esperado. “Mais do que uma mudança de paradigma, é uma abordagem diferente”, diz o diretor, Tito Santana, que reconhece a “inexperiência” manifestada nas duas primeiras edições.
Se o rock'n'roll continua a ser a matriz do festival conimbricense, agora o objetivo passa por alargar o espetro dentro deste género, numa tentativa de replicar os primeiros anos do Festival de Paredes de Coura. “Estamos a fazer agora o que devíamos ter feito na primeira edição. De nada nos vale trazer bandas de topo se não houver um plano de comunicação por trás”, afirma.
O cartaz deste ano reflete o novo espírito, com bandas e músicos oriundos de dez países e cinco continentes, que fazem do Rocketmen “um festival de rock do Mundo”.
Novas apostas
Sem o Super Bock Super Rock como potencial concorrente na região de Lisboa este ano, o Kalorama optou por antecipar a sua edição em mais de dois meses. Pelo Parque da Bela Vista vão passar, entre os dias 19 e 21 de junho, os Pet Shop Boys, FKA Twigs ou Azaelia Banks, fazendo coincidir a edição deste ano com as festas da cidade. Diogo Marques atribui a alteração de datas à maior disponibilidade dos artistas pretendidos para atuarem nesta altura e defende que, mais importante do que o ‘timing’ de realização, é a atratividade do evento, “Felizmente, criámos uma comunidade em torno do festival, unida pela aposta que fazemos na música e na arte, mas também na acessibilidade ou inclusão”.
Com o cartaz ainda por revelar na sua quase totalidade – o anúncio está previsto para meados da próxima semana –, o Festival de Vilar de Mouros não se mostra muito preocupado com o aparente atraso face à concorrência. “Estamos muito otimistas com os nomes que vamos anunciar”, assevera o diretor Paulo Ventura, que reconhece também “o peso” da marca como fator de tranquilidade.
Apesar de apenas ter anunciado até agora a atuação dos Da Weasel, o festival minhoto já vendeu “bastantes” pré-passes, “sinal da confiança que os nossos seguidores têm em nós”, enfatiza o promotor.