“Lion: a longa estrada para casa”, estreia em longa-metragem de Garth Davis, baseia-se num comovente caso real. Está disponível no canal Hollywood.
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Não é o tema central de “Lion”, mas há uma ideia fortíssima que surge no diálogo entre o filho e a mãe adotiva. Ele diz que lamenta que ela não tenha podido ter filhos. E ela esclarece que não foi essa a razão para o adotarem: “O mundo tem gente a mais. Se tivéssemos um filho estaríamos a agravar o problema. Adotando uma criança, demos-lhe a oportunidade de ter uma vida melhor”.
Esta iniciativa exemplar não é ficção. Foi a história verídica de Saroo Brierley, interpretado no filme de estreia de Garth Davis por Sunny Pawar (em criança) e Dev Patel (em adulto). Saroo adormeceu num comboio parado e acordou em Calcutá, na Índia, a 1500 kms da sua aldeia.
Era 1986 e Saroo tinha cinco anos. Todo o seu mundo desaparecera: mãe, irmãos e casa. Sem falar bengali e sem a menor ideia sobre a localização de Ganesh Talai, a sua aldeia, nome que nem sequer sabia pronunciar, caiu nas ruas de uma cidade habitada por milhões.
Um retrato da miséria e da vida de milhares de crianças órfãs que deambulavam por Calcutá marca a primeira parte do filme que recebeu seis nomeações para os Oscars em 2016 e dois prémios ingleses BAFTA. Na segunda metade há redenção. Um casal australiano, os Brierley (Nicole Kidman e David Wenham), dá a oportunidade de uma vida melhor a Saroo e a outro órfão indiano.
Homem feito e com sotaque da Austrália, o autor do livro em que se inspira o filme – “A longa estrada para casa” (2013) – atravessa uma crise de identidade, mas descobre também uma nova tecnologia: o Google Earth, que lhe devolve a esperança de reencontrar as raízes.
Num crescendo emocional, o filme segue a pesquisa de Saroo e a sua viagem à Índia, onde é apenas um estrangeiro guiado por reminiscências. A lagriminha é inevitável no fim. Produção competente, “Lion” conta uma extraordinária história de esperança e generosidade – reforçada pelo facto de ter acontecido.