Paul Brandão, antigo diretor artístico da sala bracarense, estreia esta sexta-feira “Se desta janela, debruçando-me”.
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O Theatro Circo, em Braga, estreia esta sexta-feira, às 21.30 horas, a peça coreográfica “Se desta janela, debruçando-me”, com criação e dispositivo cénico de Paulo Brandão, a partir do texto “O marinheiro”, escrito por Fernando Pessoa.
O espetáculo, que se repete amanhã à mesma hora, tem interpretação de Carminda Soares, Maria R. Soares e Francisca Sarmento. E marca o regresso de Brandão ao Theatro Circo, de onde saiu em junho, após uma década na direção artística da sala.
As personagens são três irmãs que velam o corpo de outra mulher, que está num caixão, mas não se vê em cena. Brandão introduz a dança numa representação de um teatro inicialmente sem ação, cuja energia está concentrada no que é dito pelas três veladoras.
“A determinado momento, falam de um marinheiro que, supostamente, as vai tirar do castelo onde estão fechadas. Vejo nisso uma espécie de clausura a que a sociedade muitas vezes vota as mulheres”, diz o encenador na antecâmara da estreia.
Questionar a realidade
Paulo Brandão sublinha que “a exclusão pode ter muitas formas” e que essa é uma reflexão que a peça, ainda que de forma “muito subliminar”, convida os espectadores a fazer.
“Infelizmente, a nossa sociedade ainda tem essa carga paternalista, misógina e até machista”, reconhece o encenador.
Escrita em 1913 e publicada em 1915 na revista Orpheu, “O Marinheiro” é uma peça de teatro centrada na reflexão, assumindo um caráter filosófico e misterioso em que até a própria realidade é questionada.