Filme de Steven Spielberg foi realizado em 1975, mas não ganhou uma única ruga. Está de novo nos cinemas, agora em formato IMAX.
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Estreado em 1975, o "Tubarão", de Steven Spielberg, é hoje um marco na história do cinema, e não apenas pelas suas - imensas - qualidades enquanto objeto fílmico.
Para começar, o filme, com os seus 470 milhões de dólares arrecadados nas bilheteiras de todo o mundo (números de hoje), tornou-se, à época, o mais visto de todos os tempos, ultrapassando após quase 10 anos, "Música no Coração".
Por outro lado, a estreia quase simultânea do filme de Spielberg e do primeiro "Star Wars", de George Lucas, inaugurou de forma simbólica a era dos blockbusters e das sequelas intermináveis. Da saga de ficção científica sabemos onde ainda nos está a levar, quase meio século mais tarde, ao "Tubarão" sucederam-se três continuações/novas versões, uma delas em 3D, mas em acentuada queda criativa e sem grande participação do autor original.
Na realidade, "Tubarão" enquadra-se no que pode ser considerado um dos períodos mais criativos por parte de um único realizador, pelo menos na história do cinema moderno. Senão vejamos o que Spielberg realizou por esses anos: "Encontros Imediatos do 3.0 Grau" (1977), "Os Salteadores da Arca Perdida" (1981), "E.T." (1982).
A estreia de "Tubarão" foi também muito bem ensaiada pela Universal Pictures. O que se fez foi, em sintonia com o filme, apostar no prazer que o espetador sente em ter medo - como quando se fecham os olhos para não ver algo, mas se espreita pelo canto do olho. O primeiro a percebê-lo foi Spielberg, espetador atento desde miúdo do que os clássicos faziam e, no domínio do suspense e do horror animal, soube beber no mestre Hitchcock - sobretudo de "Os Pássaros".
Visto hoje, o "Tubarão" não ganhou uma única ruga. Na forma como, sabendo que ele irá alguma vez aparecer, nos vai tirando essa possibilidade de o ver até a um estado adiantado do filme. Depois, é o horror, de que tanto gostamos. Mas, para lá de um compêndio de cinema, o filme é um impressivo retrato da América, do homem contra o sistema e não só contra a natureza, neste caso animal. Se quiserem ter medo a sério, vão ver como é....