Humorista britânico apresenta-se este sábado na Altice Arena com "Armageddon". O espetáculo de stand up já rendeu mais de 30 milhões de euros e bate recordes em todo o lado. Sala já está esgotada.
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Foram muitos anos, para muitas pessoas, à espera de ver Ricky Gervais em Portugal: depois de várias séries de sucesso, de digressões esgotadas, de especiais na Netflix, aos 62 anos o humorista britânico estreia-se finalmente este sábado em Lisboa.
À lotada Altice Arena, traz o mais recente "Armageddon", espetáculo que já rendeu mais de 30 milhões de euros e que até entrou para o livro de recordes do Guinness. "Se não conseguiu bilhetes", lembrou o próprio com ironia esta semana nas redes sociais, “por favor não se preocupe: a Netflix comprou-o, por isso poderá ver tudo no conforto da sua casa”.
Quando chegar à plataforma de streaming, é possível que "Armageddon" volte a acumular recordes: até agora, já detém a maior bilheteira para uma apresentação de comédia stand-up, a tal que lhe garantiu o Guinness (mais de 1,6 milhões de euros numa noite no Hollywood Bowl) e outros recordes de salas pelo mundo. Mas, a avaliar pelo sucesso estrondoso do antecessor "Supernature", também no “conforto da casa” do público a adesão deverá ser massiva.
Um cómico formado em filosofia
O sucesso é fácil de explicar e compreender, o que não quer dizer que tenha sido fácil de conquistar: nascido numa família de poucas posses, o pai operário, sendo o mais novo de quatro irmãos (um bebé “acidente” como brinca), Gervais é na verdade formado em Filosofia, tendo ainda tentado a sorte como músico, numa banda pop.
Depois de vários anos no univ erso do stand-up, conseguiu entrar na televisão britânica, que quase revolucionou quando cocriou e protagonizou “The Office”, a série de comédia do Reino Unido mais bem-sucedida de sempre.
Seguiram-se “Extras”, “Derek” e o aclamado “After life”, intercalados com digressões e especiais, com apresentações icónicas e ousadas dos Globos de Ouro, num resumo de carreira quase impossível: só em prémios, já acumulou três Globos de Ouro, dois Emmys e sete BAFTAS, tendo outra referência no Guinness pelo podcast com mais downloads de sempre. Já foi nomeado pela revista "Time" como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.
A liberdade de expressão levada ao limite
Ao longo do seu percurso, Gervais tornou-se conhecido pelo seu humor inteligente e apurado, sempre com um toque negro, britânico e mordaz, bem como a sua capacidade para a ironia, a crítica, a sátira e a provocação.
A provocação, o desconforto, o choque e a ausência de limites são, aliás, marcas suas e paulatinas: entre as cinco apresentações dos Globos de Ouro, onde a tónica comum foi o facto de Gervais visar, sem impedimentos ou qualquer auto-censura, algumas das maiores estrelas do mundo, veio a surpresa de “After life”, na Netflix, uma homenagem ao seu amor pela sua mulher de décadas, viva, representado numa série sobre uma mulher já falecida, onde mostrou o seu lado mais humano e profundo. "After life" é, para Gervais, “a melhor coisa” que já escreveu.
O britânico é, ainda, também reconhecido pela sua filantropia, pelo veganismo e pela defesa implacável dos direitos dos animais.
No entanto, nos últimos anos, numa postura cada vez mais "anti-woke", e politicamente incorreta, tem sido criticado por ir “longe demais” em alguns temas e piadas, por ser “insensível” ou “ofensivo”.
Os dois últimos espetáculos transformados em especiais da Netflix, “Humanity” e “Supernature”, foram alvo de alguma controvérsia, sobretudo o segundo, sendo o humorista acusado de atacar comunidades como a transexual, cujas associações se expressaram contra o seu humor.
Com os textos a visar várias comunidades e religiões, tem havido mesmo relatos não confirmados de ameaças de morte ao artista inglês de 64 anos.
O “risco ocupacional de ser franco”
Às críticas, Ricky Gervais responde invocando a ironia, que diz usar constantemente, e com a importância da liberdade de expressão e um quase lema, baseado num tweet que fez há anos: “A ofensa é o dano colateral da liberdade de expressão. É uma coisa boa. Isso força as pessoas a pensar e apresentar um argumento”, defende.
Recentemente, explicava também a Stephen Colbert, no seu programa de TV nos EUA, acreditar que as pessoas se ofendem quando “confundem o sujeito da piada com o verdadeiro alvo”, frisando ainda que o humor “nos ajuda a superar as coisas negativas”.
Fica claro que para o britânico não há tabus: celebridades, religião, comportamentos humanos, mulheres, homens, política, minorias, saúde – e pelas avaliações de "Armageddon", o espetáculo que o traz a Lisboa não é exceção na ausência de zonas proibidas.
Numa entrevista recente ao “The Hollywood Reporter” falava sobre o “risco ocupacional de ser franco”: “As pessoas gostam da ideia de liberdade de expressão até ouvirem algo de que não gostam”, disse. "Portanto, ainda há uma pressão, mas isso não significa que vou atenuar ou recuar e não dizer o que quero".
Mais à frente acrescentava: “Quando as pessoas dizem 'ele ultrapassou os limites', eu digo 'eu não tracei os limites, vocês é que o fazem’. É relativo. É subjetivo".
Sobre a sua estreia em Portugal, Ricky Gervais escreveu esta semana nas redes sociais: “Estou ansioso para atuar na monstruosa Altice Arena este fim de semana. É ainda maior do que o Hollywood Bowl. E é na bela Lisboa. Mal posso esperar!”.