Teatro Experimental do Porto apresenta obra de Jorge Louraço sobre a Nazaré.
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O teatro em Portugal teme o popular e escuda-se nos clássicos para cultivar uma aura de erudição nem sempre bem concretizada. Todavia, começa a vislumbrar-se uma vaga de encenadores e dramaturgos que contam histórias nacionais, contemporâneas, que ativam a empatia no espectador, sem temer o popular que, como dizia García Lorca "é a maior forma de erudição".
O encenador Jorge Louraço Figueira tem nas próximas semanas quatro obras suas a estrear, com resgate de memórias de lugares, pessoas e histórias portuguesas. "Abrigo para náufragos" que se estreia sábado, no Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, é também uma fórmula para salvaguardar património familiar.
O avô de Jorge Louraço foi correspondente na Nazaré do jornal "O Comércio do Porto" e amiúde tinha de ditar ao telefone os desfechos do Grupo Desportivo "Os Nazarenos" e dos naufrágios, "que tinham, por vezes, o mesmo resultado". Por capricho do destino, coube a esse avô, também ourives, ditar a morte do pai daquele que viria a ser o marido da sua filha. Esse homem era uma espécie de super-herói da Nazaré, sobrevivente de 26 naufrágios, antes de um fatídico 27.º que tardou quase 50 anos a ser deslindado. A façanha era tal que o jornal americano "Boston Globe" relatou a sua morte.
Montada esta trama, Diogo S. Figueira, guionista e bisneto dos protagonistas, escreveu a pedido do tio Jorge Louraço uma carta de amor à comunidade piscatória da Nazaré. Um texto engenhoso em que se vão encontrando os três fantasmas: os avós materno e paterno e o filho/genro, que contam, com recurso a recortes d""O Comércio do Porto", o que lhes foi acontecendo.
Com os destroços da memória constroem maquetes para nos mostrar que o "mar recua, mas o tempo não volta para trás", sempre ao som de Carl Minnemann. A exploração turística e a ironia fina do "very tipical", a busca por uma vida melhor e a sombra do mar e da morte, nas interpretações de Rui Oliveira, Tiago Araújo e Valdemar Santos, deviam ser de visita obrigatória.
Abrigo para náufragos
Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery
dias 25 e 26