Série espanhola "Respira" retrata em oito episódios o "caos organizado" dos hospitais públicos.
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Talvez devido ao valor que, naturalmente, se dá à saúde, as chamadas 'séries de hospitais' parecem uma receita segura, desculpem o trocadilho, e por isso sucedem-se desde o incontornável "Serviço de Urgência", estreado há já 30 anos. Numa longa lista, destacam-se também "Anatomia de Grey", um médico com autismo em "The Good Doctor", as excentricidades de "Dr. House" ou, em "Saving Hope", um médico que vê e fala com o espírito dos pacientes que estão em coma.
Uma das mais recentes propostas, do país vizinho, é "Respira", que surpreende pelo hiper-realismo que contrasta com as excelentes condições que geralmente abundam nas séries norte-americanas. A acção decorre em Valência e tem por base o fictício Hospital Joaquin Sorolla, baptizado com o nome de um pintor local, mas bem podia decorrer em Portugal, dado o 'caos organizado' que reina naquela unidade de saúde pública: macas com pacientes acumuladas nos corredores, infiltrações, falta de materiais, indisponibilidade de horários para realizar exames fundamentais são o dia-a-dia dos seus profissionais, entre os quais o Dr. Néstor Moa (interpretado por Borja Luna), um oncologista de renome que encabeça os protestos contra a autarquia, responsável pelo hospital, cuja presidente é Patrícia Segura (mais uma personagem marcante e excessiva de Najwa Nimri), num elenco em que se encontram outros actores de "A Casa de Papel", "Velvet" ou "Elite", como Aitana Sánchez-Gigón ou Manu Rios.
O estremar de posições de ambas as partes vai culminar na marcação de uma greve sem serviços mínimos, cujo início vai coincidir com a operação da presidente da câmara e desencadear um enorme mal-estar dentro da instituição.
Para além da difícil co-habitação entre saúde e política e dos casos graves que se vão sucedendo nas urgências, a série é atravessada por histórias de relações, dependência de droga e uma eventual violação que ajudam a dar consistência e ligação aos oito episódios de uma temporada que pede uma continuação, pois deixou em aberto o destino de uma das protagonistas e várias questões por responder.