Megaexposição "Somos todos capitães" reúne em Braga artistas nacionais e internacionais até ao dia 29 de junho.
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À sensação de arrebatamento pela quantidade de obras passíveis de verem vistas ou ouvidas é ainda acrescentado o desafio de um novo ponto de vista. Além de uma nova parede construída de propósito no local expositivo, há andaimes onde habitualmente seria um espaço amplo de passagem e apreciação. As estruturas elevadas permitem ao espectador subir ao nível das obras maior e penduradas no topo, dando a conhecer uma outra perspetiva sobre a galeria.
Se o convencional espaço expositivo Forum Arte Braga é desafiado pelo inédito ângulo que cria, outros desafios são associados aos restantes espaços. No Museu Nogueira da Silva, um espaço no centro bracarense historicamente relacionado com o regime fascista, há um constante jogo de balanço entre a coleção própria da casa e a coleção trazida por “Somos todos capitães”.
O exemplo exímio dessa ideia é a peça “St. Frigo” (1996), de Jimmie Durham, que coloca um frigorífico destruído a frontear uma vitrine que guarda uma coleção de loiça imaculada. A peça referida, tal como parte considerável das que podem ser vistas até 29 de junho, fazem parte da Coleção de Arte Contemporânea do Estado. Outras coleções institucionais, como o arquivo de Serralves, a Coleção Museu do Neo-Realismo ou a Kontakt Collection, compõem a exibição, bem como cedências privadas dos próprios artistas ou outros.
Desafiar a ordem instalada
Apresentada como a maior exposição de arte contemporânea relacionada com a revolução do 25 de abril de 1974 é inegavelmente um projeto de caráter fortemente editorial, imersivo e transdisciplinar. Paulo Mendes deixa a sua marca ao longo de todo o percurso – estando presente, em particular, no uso de caixas de transporte num dos salões do Museu Nogueira da Silva a servir de suportes e guias para a exposição.
O desafio feito aos espaços é particular – e característico – do curador, que pretende afirmar-se mais do que um mero “selecionador” de nomes e obras. “Não se trata de uma exposição histórica ou académica, eu sou um artista” e a exposição é uma narrativa “de gestos e fragmentos da memória” do próprio e da sua vivência da passagem para a liberdade.
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À sensação de arrebatamento pela quantidade de obras passíveis de verem vistas ou ouvidas é ainda acrescentado o desafio de um novo ponto de vista. Além de uma nova parede construída de propósito no local expositivo, há andaimes onde habitualmente seria um espaço amplo de passagem e apreciação. As estruturas elevadas permitem ao espectador subir ao nível das obras maior e penduradas no topo, dando a conhecer uma outra perspetiva sobre a galeria.
Se o convencional espaço expositivo Forum Arte Braga é desafiado pelo inédito ângulo que cria, outros desafios são associados aos restantes espaços. No Museu Nogueira da Silva, um espaço no centro bracarense historicamente relacionado com o regime fascista, há um constante jogo de balanço entre a coleção própria da casa e a coleção trazida por “Somos todos capitães”.
O exemplo exímio dessa ideia é a peça “St. Frigo” (1996), de Jimmie Durham, que coloca um frigorífico destruído a frontear uma vitrine que guarda uma coleção de loiça imaculada. A peça referida, tal como parte considerável das que podem ser vistas até 29 de junho, fazem parte da Coleção de Arte Contemporânea do Estado. Outras coleções institucionais, como o arquivo de Serralves, a Coleção Museu do Neo-Realismo ou a Kontakt Collection, compõem a exibição, bem como cedências privadas dos próprios artistas ou outros.
Desafiar a ordem instalada
Apresentada como a maior exposição de arte contemporânea relacionada com a revolução do 25 de abril de 1974 é inegavelmente um projeto de caráter fortemente editorial, imersivo e transdisciplinar. Paulo Mendes deixa a sua marca ao longo de todo o percurso – estando presente, em particular, no uso de caixas de transporte num dos salões do Museu Nogueira da Silva a servir de suportes e guias para a exposição.
O desafio feito aos espaços é particular – e característico – do curador, que pretende afirmar-se mais do que um mero “selecionador” de nomes e obras. “Não se trata de uma exposição histórica ou académica, eu sou um artista” e a exposição é uma narrativa “de gestos e fragmentos da memória” do próprio e da sua vivência da passagem para a liberdade.
Mas se há verdadeira mostra do desafio ao cânone, é a escolha particular da obra “Vadios”, de João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, para inusitado espaço expositivo do Regimento de Cavalaria nº 6. Num espaço raramente aberto ao público – e muito menos à cultura – Paulo Mendes seleciona uma peça que pode ser vista como altar à homossexualidade.
Da Coleção António Cachola, feita em metal e assemelhando-se à forma de um urinol público, o espaço é perfumado com aroma de nitrato de amilo, uma substância geralmente conhecida na comunidade gay como “poppers” e utilizada para ampliar a sensação de euforia sexual. Nas palavras grafitadas leem-se excertos de poetas portugueses que, na primeira metade do século XX, ousaram referenciar a homossexualidade, tendo sido os seus livros apreendidos e queimados.
Mas se há verdadeira mostra do desafio ao cânone, é a escolha particular da obra “Vadios”, de João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, para inusitado espaço expositivo do Regimento de Cavalaria nº 6. Num espaço raramente aberto ao público – e muito menos à cultura – Paulo Mendes seleciona uma peça que pode ser vista como altar à homossexualidade.
Da Coleção António Cachola, feita em metal e assemelhando-se à forma de um urinol público, o espaço é perfumado com aroma de nitrato de amilo, uma substância geralmente conhecida na comunidade gay como “poppers” e utilizada para ampliar a sensação de euforia sexual. Nas palavras grafitadas leem-se excertos de poetas portugueses que, na primeira metade do século XX, ousaram referenciar a homossexualidade, tendo sido os seus livros apreendidos e queimados.