O humorista Ricardo Araújo Pereira e o tradutor e escritor Frederico Lourenço juntaram-se, esta quinta-feira, no Theatro Circo, em Braga, para uma conversa improvável que abriu a programação do novo Festival Literário Utopia.
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Durante uma hora, partiram de uma base comum – o livro “Utopia” escrito por Thomas More –para deambularem por muitas outras coisas, que incluíram a zona de conforto de cada um deles (literatura e humor), o estado da sociedade e o que a História nos diz sobre o presente.
Nem religião faltou. Ou melhor: a religião foi muitas vezes um pano de fundo importante, precipitada pelo facto de Frederico Lourenço, tradutor de grandes clássicos, fascinado por Horácio, ter em mãos a tradução da Bíblia para Português.
Ricardo Araújo Pereira soltou-se verdadeiramente na hora de abordar as “traduções” que faz do dia a dia, sobretudo social e político, o que lhe permitiu aprofundar o pensamento sobre liberdade de expressão e até os limites eventuais que o humor possa ter.
“É saudável viver numa democracia em que é possível rirmos dos nossos dirigentes. Há gente que diz que isso dessacraliza a política. Eu acho que em democracia a política deve ser dessacralizada”, apontou.
O humorista lembrou a queixa-crime de que foi alvo depois de uma sátira feita no programa “Isto é gozar com quem trabalha”, a propósito de um comentário feito pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, relativamente a duas mulheres, no Canadá.
Na denúncia apresentada anonimamente, os queixosos consideram estar em causa a prática de “crimes de ofensa à honra do Presidente da República” e “ultraje de símbolos nacionais e regionais”. “O processo é mais engraçado do que o nosso programa”, ironizou Ricardo Araújo Pereira.
O primeiro momento do Festival Literário Utopia, que decorre em Braga até 12 de novembro, integrou ainda a assinatura de um protocolo de colaboração entre as Câmaras de Braga, de Óbidos e de Lisboa, onde se prevê uma parceria entre os respetivos festivais (Utopia, Fólio e 5L).