Primeira compilação do cantor e compositor britânico Richard Hawley é um exercício magistral de coerência estética.
Corpo do artigo
Descansemos: o Natal ainda vem longe, mas, para os entes queridos que gostem do estilo, a prenda certa já está no mercado. “Now then: The very best of Richard Hawley”, compilação aguardada há algum tempo, é obra irresistível, é um conjunto de 32 pedaços de amor cantado em tom superlativo por um dos mais conhecidos e reconhecidos "singer-song writers" do Reino Unido.
Além do vozeirão que Hawley usa com mestria em tudo o que canta, articulando-o com sobriedade quando o tempo é de balada, ou puxando por ele sempre que o ritmo acelera, o que mais impressiona em “Now then” é a coerência. O disco (CD duplo também disponível em vinil) recolhe mais de duas décadas de trabalho. Ouvindo-o sem olhar para a data de produção de cada tema, ninguém arriscaria dizer que se trata de uma compilação.
Coerência não significa brandura e placidez estética e auditiva. Pelo contrário: a prosa do inglês, que teve uma fugaz passagem pelos Pulp, é poderosa, o que confere singularidade a cada tema; a orquestração é diversificada e rica (melancólico as mais das vezes, Hawley espalha doses q.b. de guitarradas e psicadelismo). Quer dizer: “Now then” é trabalho para encher o coração dos fãs de longa data e para conquistar os que tiveram o azar de só agora descobrirem a caixa de joias laboriosamente concebida por este inglês de Sheffield.
Joias, sim. Como “Ballad of a thin man”, tema de Dylan que Hawley gravou para o final da 5.ª temporada de “Peaky Blinders”. Ou a deslumbrante “Not the only road” (The only road I walk alone/ Where beauty nails me to her cross/Bleeding from my hands and feet/I whisper that my love is lost”, recentemente regravada para a série de TV “The full monty”. Ou a magistral “The ocean” (“You know it’s been a long time/ You always leave me tongue tied/And all this times for us/ I love you just because”), canção eterna, daquelas que parecem acompanhar-nos desde sempre e para sempre. Ou “Open up your door” (“Love is so hard to find/and even harder to define”).
“Now then: The very best of Richard Hawley” é uma peça rara. Uma riquíssima prenda. Agradecidos.