"The boys": a melhor série de super-heróis vilões é o futuro estampado por Trump.
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Os sinais de alarme estalam por todo o lado: a América corre em direção à intempérie fascista, milionários radicais conspiram com pleonásticos políticos vigaristas, os media especializam-se em mascarar propaganda sob a forma de notícias, as regras da democracia e da lei são sequestradas pelo Supremo Tribunal, a oligarquia é o novo império situacional. O sonho húmido da distopia nacionalista cristã e branca é uma realidade à distância da mão. Estamos na era pós-constitucional, somos sobreviventes da segunda revolução dos Estados Unidos da América.
É esta a conjuntura pós-5 de novembro de 2024: Donald Trump ganhou as eleições presidenciais, o mundo conforme o conhecemos começou a acabar. Negríssima realidade ou estupenda ficção? Veremos após o ato eleitoral.
Mas, entretanto, esse é o quadro criativo e emocional de “The Boys”, excelentíssima série de ficção científica do criador Eric Kripke, que nos projeta desde 2019 a realidade alternativa do “absurdistão” que é a América na era do trumpismo e que se acentua - e muito gravemente - nos novos episódios da 4.ª temporada do seriado da Amazon Prime.
Analogia violenta ao nosso tempo, sangrenta e cruel como carne crua , “The boys”, uma história que assenta num grupo de vigilantes que decide combater os super-heróis corruptos que abusam dos seus superpoderes, é uma corrida sombria e sem esperança - ainda que ferozmente divertida para adeptos fanáticos de “gore” - em direção ao glorioso abismo.
Nunca tanto como agora esta série negra, que se entretém a expor os absurdos nocivos da América trumpista, pareceu tão urgente nos seus toques de alarme. Insidiosa e terrível, sádica, delirante, fantasticamente perversa, bruta e chocante como já não há, “The boys” não é para estômagos vulneráveis - é para quem gosta de rir paralisado de medo.